Pode beijar o morto no caixão? Especialista explica

A comoção em torno do velório de Preta Gil, realizado na última sexta-feira (25), não ficou restrita às homenagens. Uma cena em especial, protagonizada por Gilberto Gil, pai da artista, gerou grande repercussão nas redes sociais: ele se despediu da filha com um beijo na testa. O gesto de carinho foi repetido por outros familiares e amigos próximos — e, com isso, surgiu uma dúvida recorrente entre internautas: afinal, é seguro beijar uma pessoa falecida durante o velório?

Para esclarecer o tema, o Correio ouviu o tanatopraxista Bruno de Oliveira, conhecido como Bruno Tanato. Com formação especializada e experiência em serviços funerários e no Instituto Médico Legal, Bruno explicou que o contato físico com o corpo de um ente querido, quando este passou por um bom procedimento de tanatopraxia, não oferece riscos à saúde.

“A tanatopraxia é um processo que vai muito além da higienização externa. Trata-se de uma limpeza profunda e técnica, interna e externa, que desinfeta o corpo e o prepara para o velório”, detalha o especialista. De acordo com ele, testes laboratoriais realizados durante sua formação comprovaram que, após a tanatopraxia, a pele de um corpo preparado pode conter até menos bactérias do que a de uma pessoa viva. “Fizemos culturas de pele e foi surpreendente. Nos corpos preparados corretamente, encontramos pouquíssimos microrganismos, enquanto nos vivos, a quantidade era significativamente maior”, revela.

No entanto, o tanatopraxista faz uma ressalva importante: a causa da morte precisa ser considerada. Em casos de doenças altamente contagiosas, como algumas infecções virais ou bacterianas graves, o contato direto, inclusive beijos, não é recomendado. “No caso da Preta Gil, que faleceu em decorrência de um câncer, não há esse tipo de risco. Mas se estivermos falando de óbitos por doenças transmissíveis, mesmo com a tanatopraxia, é prudente evitar o contato direto com a pele do falecido”, alerta Bruno.

O procedimento, que vem se tornando cada vez mais comum em funerárias brasileiras, tem como objetivo não apenas conservar o corpo por mais tempo, mas também proporcionar uma aparência serena e digna para a despedida. A tanatopraxia permite que familiares e amigos se despeçam com mais tranquilidade, tornando o luto um pouco menos doloroso.

Portanto, gestos como o de Gilberto Gil, que emocionaram o país, são compreensíveis do ponto de vista afetivo e, quando realizados dentro dos parâmetros de segurança, também são aceitáveis do ponto de vista sanitário.