O governo federal anunciou nesta semana um novo decreto que reformula as regras do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT). O texto, assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, altera pontos essenciais do funcionamento do vale-alimentação e do vale-refeição, benefícios utilizados diariamente por milhões de trabalhadores e por uma ampla rede de estabelecimentos comerciais em todo o país.
O objetivo declarado é reduzir custos, ampliar a concorrência entre operadoras e modernizar um sistema que, segundo especialistas, se tornou caro e altamente concentrado nos últimos anos. A mudança, no entanto, vem sendo observada com cautela por pequenos e médios empresários, especialmente os que dependem fortemente dos tíquetes para manter o faturamento mensal.
O que muda com o novo decreto do PAT
O decreto introduz uma série de atualizações estruturais no PAT. As principais medidas incluem:
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Novo limite para taxas cobradas dos comerciantes
Passa a valer um teto de 3,5% nas taxas descontadas pelas operadoras sobre os pagamentos feitos aos estabelecimentos credenciados.
Interoperabilidade obrigatória
Todas as bandeiras deverão passar a funcionar de forma integrada. Isso significa que qualquer cartão de benefício precisará ser aceito em qualquer estabelecimento, independentemente da operadora emissora.
Fim da exclusividade das bandeiras
Comerciantes e consumidores ganham liberdade para escolher a operadora que melhor se adapta às suas necessidades.
Abertura do mercado
O decreto busca reduzir a concentração do setor, hoje dominado por poucas empresas.
Digitalização e maior fiscalização
Os processos passam a ser mais monitorados, com foco no combate a fraudes e na transparência das operações.
O prazo para que as empresas implementem a interoperabilidade é de 12 meses, sob supervisão do Banco Central.
Expectativa e cautela entre empresários
A reação no setor de alimentação revela um ambiente marcado por esperança, mas também por incerteza. Muitos estabelecimentos operam com margens apertadas e dependem intensamente do volume de vendas via tíquetes.
Edmílson Martins Rocha – Sol Gastronomia (RJ)
Com taxa média de 6% por venda, Rocha vê a redução como necessária.
Afirma que, caso as taxas caiam, poderá até revisar preços. Para incentivar pagamentos sem tíquete, já oferece desconto de 5% para quem usa dinheiro ou Pix.
Weksson Araújo – Doceria Gulosinho (RJ)
Araújo trabalha com insumos de alto custo, como chocolate, e destaca que só aderiu a três bandeiras devido às tarifas elevadas.
Para ele, qualquer redução de custo representa fôlego imediato.
Sérvulo Júnior – Padaria Araucária (RJ)
Com taxas variando entre 3,5% e 9%, Sérvulo vê potencial positivo no novo decreto, mas mantém prudência.
Ele afirma que será preciso aguardar a efetiva aplicação das mudanças.
Nei Duarte – Restaurante Salú (RJ)
Duarte se mostra mais reticente e cita a falta de previsibilidade das operadoras, que costumam alterar tarifas com frequência.
Ele receia que a redução de taxas seja compensada com cobranças adicionais, como a taxa de antecipação de crédito.
Os riscos que podem reduzir o impacto do novo PAT
Especialistas e comerciantes alertam para a possibilidade de que as operadoras busquem alternativas para manter a rentabilidade. Entre os riscos apontados:
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aumento de taxas de antecipação, essenciais para negócios com fluxo de caixa apertado;
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criação de novos tipos de tarifas, menos visíveis nos contratos;
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burocratização de processos, devido à reorganização dos sistemas internos das operadoras.
Caso essas práticas se tornem comuns, parte dos ganhos previstos pelo decreto pode ser neutralizada.
Entidades do setor divergem sobre o novo modelo
A modernização do PAT dividiu opiniões entre entidades de representação empresarial.
ABBT – Associação Brasileira das Empresas de Benefícios ao Trabalhador
Representando grandes operadoras como Ticket, Alelo, VR e Pluxee, a ABBT criticou o decreto e afirmou que o modelo pode:
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enfraquecer a fiscalização;
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reduzir a competitividade;
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impor prazos inviáveis para adequações;
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carecer de estudos técnicos que comprovem benefícios ao consumidor.
Abras – Associação Brasileira de Supermercados
Na direção oposta, a Abras celebrou o texto e ressaltou que o setor hoje enfrenta até 17 tipos diferentes de tarifas.
Segundo a entidade, o decreto traz mais previsibilidade e transparência, além de estimular a concorrência.
Impacto econômico: projeção de economia anual de R$ 7,9 bilhões
Segundo estimativas da Secretaria de Reformas Econômicas do Ministério da Fazenda, a modernização do PAT pode gerar quase R$ 8 bilhões em economia ao ano.
A redução seria impulsionada por:
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menores tarifas aplicadas aos estabelecimentos;
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entrada de novas empresas no mercado;
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avanços tecnológicos e redução de custos operacionais.
O benefício médio para o trabalhador, segundo a projeção, pode chegar a R$ 225 por ano, caso a concorrência se reflita em preços mais baixos ou melhores condições de oferta.
Interoperabilidade: o ponto mais aguardado
A aceitação universal dos cartões é considerada o maior avanço do decreto. Com essa mudança:
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o trabalhador poderá usar seu cartão em qualquer estabelecimento;
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o comerciante deixará de depender de múltiplas bandeiras;
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empresas terão mais opções ao contratar operadoras.
Essa medida tem potencial para reorganizar completamente o mercado, ampliando a concorrência e reduzindo custos estruturais.
O que esperar a partir de agora
O novo PAT representa uma mudança profunda no sistema de benefícios corporativos. No entanto, seus efeitos reais dependem da regulamentação complementar e da capacidade das operadoras de se adaptarem ao novo cenário.
Entre os pequenos empreendedores, predominam três comportamentos:
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Otimistas, que enxergam margem maior e redução de despesas.
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Prudentes, que pretendem usar a economia para estabilizar o caixa.
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Céticos, que aguardam para ver se o mercado realmente seguirá o teto imposto pelo governo.
O consenso, no entanto, é que os próximos meses serão decisivos para medir a eficácia do novo modelo e seus impactos sobre trabalhadores, empresas e consumidores.
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