Trabalhar na profissão dos sonhos, em uma grande empresa e vivendo experiências únicas no dia a dia parece um objetivo comum para muitas pessoas. No entanto, enquanto alguns se dedicam a conquistar esse espaço, outros escolhem um caminho diferente para chegar lá—mesmo que seja apenas na aparência.
Esse foi o caso de Luana Santos, uma influenciadora digital que passou dois anos fingindo ser jornalista esportiva da ESPN. Com credenciamentos falsos e um crachá forjado, ela conseguiu acesso a diversos jogos, incluindo a final do Brasileirão Feminino, e construiu uma falsa carreira na mídia esportiva.
A construção da farsa
Luana, que usa o perfil @poeticlua no Instagram, produzia conteúdo sobre futebol feminino para cerca de 20 mil seguidores. Em sua biografia, se apresentava como setorista do Red Bull Bragantino pela ESPN, dando ainda mais credibilidade à sua história.
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Ao longo de dois anos, ela conseguiu driblar as regras de credenciamento para jornalistas esportivos, garantindo entrada gratuita em estádios e acesso a áreas restritas, como tribunas de imprensa e zonas mistas—espaços exclusivos para profissionais do setor.
O ponto alto da fraude ocorreu em maio do ano passado, quando Luana participou do podcast “Papo Reto Esportes”. No programa, ela foi apresentada como repórter e assessora de imprensa da ESPN Brasil e, sem hesitação, sustentou a mentira:
“Eu sou repórter da ESPN Brasil, trabalho lá faz mais de um ano. Entrei na redação, depois passei para reportagem de campo. E atualmente sou setorista do Red Bull Bragantino, principalmente no masculino.”
A influenciadora chegou a afirmar que trabalhava também com o marketing estratégico do time feminino do Corinthians. O clube, no entanto, desmentiu qualquer vínculo, e a suposta dupla função nem seria possível, já que a Disney—dona da ESPN—proíbe seus funcionários de atuarem diretamente em clubes de futebol para evitar conflitos de interesse.
Reconhecimento e credibilidade forjados
A cada novo evento, Luana fortalecia sua farsa, compartilhando sua “rotina” com os seguidores. Em setembro do ano passado, durante a final do Brasileirão Feminino, publicou uma mensagem comemorando sua participação no evento:
“Não é minha primeira final, nem será a última, mas é tão especial como se fosse. Quase dois anos de ESPN e eu não poderia ser mais grata por viver tudo isso. Valeu, ESPN! Valeu, jornalismo esportivo!”
Ela também chegou a exibir um crachá falso com a logo da emissora, onde se identificava como “redatora”. O detalhe é que o modelo não seguia os padrões da empresa, que sequer utiliza esse tipo de identificação para seus funcionários.
Além disso, nos destaques do Instagram, publicava imagens da redação da ESPN—possivelmente retiradas de perfis de jornalistas reais—para dar ainda mais autenticidade à sua história.
A descoberta da fraude
O esquema começou a desmoronar quando um pedido de credenciamento feito por Luana chegou à ESPN. Um funcionário da emissora, sem reconhecer o nome, questionou a equipe sobre quem ela seria. A denúncia foi então encaminhada à Disney e à Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que investigaram o caso.
Confrontada pela ESPN, Luana apagou os destaques relacionados à empresa e alterou sua biografia para “ex-@espnbrasil”. Com o aumento das visitas ao seu perfil, ela primeiro privou a conta e, depois, a deletou completamente.
Ao ser contatada para dar explicações, ela alegou ter sido “hackeada”. No entanto, ao atender uma das ligações de jornalistas, desligou rapidamente.
Consequências legais e lacunas na fiscalização
Agora, Luana pode enfrentar processos civis e criminais por crime de falsidade ideológica. A ESPN e a Disney devem tomar medidas legais contra ela pelo uso indevido da marca e pela fraude nos eventos esportivos.
O caso também levantou questionamentos sobre a segurança no credenciamento de jornalistas esportivos. Em São Paulo, essa responsabilidade cabe à Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo (Aceesp), que ainda não se pronunciou sobre a falha que permitiu a entrada de uma falsa repórter por tanto tempo nos eventos.
Enquanto isso, a história de Luana serve como um alerta: o jornalismo esportivo exige credibilidade, preparo e compromisso com a verdade—algo que, por mais que ela tenha tentado imitar, não conseguiu sustentar por muito tempo.
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