Por Redação Coruja News-
O rosa-choque invadiu as vitrines, as redes sociais, os guarda-roupas — e agora também os pratos. Inspirados por um movimento cultural que ganhou força após o sucesso mundial do filme Barbie (2023), vendedores e produtores de comida começaram a transformar receitas tradicionais com toques da estética cor-de-rosa. Foi assim que nasceu o “acarajé rosa”.
O que era tendência de moda virou linguagem visual e afetiva, ressignificando cores, sabores e até símbolos de identidade regional.
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O “morango do amor”: um doce que virou símbolo de afeto
A onda começou essa semana com o “morango do amor”, uma variação contemporânea do tradicional doce de festa junina. Coberto com caldas espessas em tons de vermelho cintilante esse novo morango foi elevado ao status de “declaração de sentimentos”. Aparecendo em vídeos com legendas apaixonadas e divertidas, rapidamente se tornou um símbolo de carinho e desejo — tanto nas bandejas de docerias quanto nos feeds de Instagram e TikTok.
O apelo visual é evidente: o contraste do rosa brilhante com o vermelho do morango atrai olhares e curtidas. Mas o fenômeno vai além da estética. O doce virou metáfora: é doce, é provocativo, gruda e se oferece com intensidade. Um gesto de afeto em forma de sobremesa.
O acarajé rosa e a polêmica na Bahia
Se o morango foi bem recebido pelo público, o acarajé rosa-choque causou outra reação. No dia 18 de julho de 2023, a cozinheira baiana Almerinda Maria viralizou nas redes sociais ao apresentar o “acarajé da Barbie”, tingido de rosa em homenagem à personagem. A iguaria, tradicional da culinária afro-baiana, ganhou uma versão ousada, com massa cor-de-rosa e divulgação feita com frases como: “Vem quente, apimentado e gruda no coração”.
A repercussão foi imediata — e dividida. De um lado, elogios à criatividade, ao engajamento com o público jovem e ao senso de oportunidade. Do outro, críticas duras sobre a possível “descaracterização” de uma comida considerada sagrada por muitas mulheres negras de axé, já que o acarajé é historicamente ligado aos terreiros e às religiões de matriz africana.
Segundo reportagem do G1, representantes da Associação Nacional das Baianas de Acarajé (ABAM) classificaram a ideia como desrespeitosa. Para eles, mudar a cor do acarajé, que tem relação direta com rituais religiosos e com o legado de mulheres negras na Bahia, é uma forma de esvaziar o valor simbólico do alimento.
Apesar da polêmica, o “acarajé rosa” ganhou repercussão nacional e se tornou exemplo da tensão entre tradição e mercado, entre cultura popular e marketing digital.
Rosa como linguagem: afeto, consumo e viralização
Em um cenário digital onde a imagem tem tanto peso quanto o sabor, os alimentos também são pensados para “dar engajamento”. Comida virou conteúdo. Mais do que alimentar, ela precisa chamar atenção, transmitir emoção — e, se possível, viralizar.
E ai, acha que vai aparecer o acarajé vermelho? Acarajé do amor…
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