O Ministério Público da Bahia (MP-BA) abriu um procedimento oficial para acompanhar de perto as investigações sobre a morte de dois jovens — Gilson Jardas de Jesus Santos, de 18 anos, e Luan Henrique Rocha de Souza, de 20 — durante uma ação policial ocorrida na noite da última terça-feira (8), no município de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador. O caso tem gerado grande repercussão e mobilização social, principalmente devido à divergência entre a versão da Polícia Militar e os relatos da família das vítimas.
De acordo com a PM, os dois jovens teriam reagido à abordagem efetuando disparos contra uma guarnição da 59ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Abrantes). Segundo a corporação, houve troca de tiros e, após cessarem os disparos, os agentes encontraram os jovens feridos dentro de uma residência. Ambos teriam sido socorridos ao Hospital Geral de Camaçari, mas não resistiram.
Entretanto, a narrativa oficial é fortemente contestada pelos familiares, que afirmam que Gilson e Luan não estavam armados e foram surpreendidos pela abordagem enquanto estavam sentados em frente à casa da família de Gilson, no bairro Canto dos Pássaros, próximo à Estrada da Cetrel. Testemunhas relataram que os jovens foram levados para dentro da residência e, segundos depois, ouviram dois disparos.
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A mãe de uma das vítimas, em vídeo gravado no momento em que os filhos eram colocados na viatura, confronta os policiais e questiona a existência de armas. “Vocês atiraram no meu filho. Ele não estava armado. Me mostrem a arma!”, grita, em meio à revolta de vizinhos e parentes.
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Outro familiar, o irmão de Luan, fez um desabafo emocionado ao relembrar a forma como o corpo do jovem foi removido: “Meu irmão foi arrastado como se não fosse humano. Nem um animal a gente trata assim. Foi um desrespeito com a vida dele e com toda a nossa dor.”
Diante da gravidade do caso, o Ministério Público atua para garantir a transparência das investigações. A 4ª Delegacia de Homicídios (DH/Camaçari) já está à frente da apuração. Além disso, a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Estado da Bahia (SJDH) informou que a Ouvidoria da pasta recebeu denúncias sobre o caso e que está acompanhando os desdobramentos junto à Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA) e à Corregedoria da Polícia Militar, que também instaurou procedimento para apurar a conduta dos policiais envolvidos.
Em nota oficial, o secretário Felipe Freitas, titular da SJDH, reforçou a necessidade de investigação rigorosa:
“Qualquer operação policial que resulte em morte deve ser tratada com absoluta seriedade. A polícia deve ser um instrumento de proteção, não de violação de direitos. Esses casos exigem uma profunda reflexão institucional.”
A morte de Gilson e Luan não é um episódio isolado. Para a comunidade, ele se soma a uma longa lista de ocorrências envolvendo jovens negros e pobres em contextos de violência policial. As famílias pedem justiça e clamam por respostas. O irmão de Luan foi enfático: “Não podemos permitir que mais jovens morram sem explicação. Chega de silêncio. Chega de impunidade.”
O caso segue sendo investigado, e a sociedade aguarda por esclarecimentos que garantam não apenas justiça às vítimas, mas também uma atuação mais transparente e responsável das forças de segurança.
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