“Vendo pés, dedos e crânios humanos.” “Pés com desconto.” “Ossos e crânios à venda, somente para clientes sérios.” Esses são alguns dos anúncios que circulam nas redes sociais do Reino Unido e que revelam um mercado peculiar em franca expansão. Quem atua nesse ramo recebe um título inquietante: “corretores da morte”. A atividade, por mais surpreendente que pareça, é legal no país.
Restos mortais, incluindo dentes, são comercializados sem grandes obstáculos. Quanto mais raras as peças, maiores os preços. Um crânio bem preservado, por exemplo, pode atingir valores expressivos.
Por que tantas pessoas compram ossos humanos?
A explicação passa por um misto de curiosidade mórbida, colecionismo e usos controversos. Há quem adquira ossos para transformá-los em joias macabras, quem os utilize em supostos medicamentos à base de ervas e até quem os colecione como objetos de exibição. Esse interesse crescente, no entanto, levanta temores: especialistas acreditam que a valorização do mercado pode incentivar o roubo de cadáveres em cemitérios britânicos.
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A origem do comércio: da Índia para o mundo
O jornalista Scott Carney, autor do livro The Red Market, investiga há anos o comércio global de partes humanas. Ele afirma que grande parte dos ossos vendidos no Reino Unido tem origem na Índia, onde sepulturas são saqueadas para atender à demanda europeia.
Em seu auge, apenas Calcutá exportava cerca de 60 mil esqueletos por ano. O processo, segundo Carney, é brutal: corpos são retirados de cemitérios, mergulhados em redes de pesca em rios por dias até a decomposição avançar, raspados, tratados com soda cáustica e finalmente preparados em laboratórios para a exportação.
“O que poucos sabem é que muitos médicos formados até os anos 1980 estudaram em esqueletos roubados. Até hoje, sempre que alguém compra uma parte do corpo sem questionar sua origem, há uma grande chance de que a cadeia de fornecimento envolva práticas desumanas”, alertou Carney.
Do ensino médico ao consumo recreativo
No início, a justificativa era acadêmica: ossos serviam a universidades e institutos de pesquisa. Com o tempo, o mercado migrou para o campo recreativo e decorativo. Hoje, não é incomum encontrar lojas especializadas que expõem desde fetos preservados em formol até anéis confeccionados com pedaços de calota craniana.
Um exemplo é a Curiosities from the 5th Corner, em Essex, administrada por Henry Scragg. O comerciante vende desde peças de anatomia raras até pingentes feitos com lascas de ossos humanos. Segundo ele, a resistência ao negócio nasce mais do “medo do desconhecido” do que de uma crítica fundamentada.
Quanto custa um pedaço da morte?
De acordo com a emissora britânica ITV, um pé humano completo pode ser comprado por cerca de 100 libras (aproximadamente R$ 725). Pelo mesmo valor, é possível levar para casa uma caixa com ossos variados. No mercado paralelo, peças mais raras alcançam cifras muito maiores.
Cemitérios na mira
Os chamados “produtores de ossos” têm preferência por cemitérios recentes, onde a decomposição ainda não comprometeu totalmente os restos mortais. “É sempre melhor obter um esqueleto fresco do que um que já esteja há muitos anos na sepultura”, afirmou Carney, ao relatar que presenciou sacos cheios de crânios acumulados na Índia.
Um mercado sem fronteiras
A explosão desse comércio no Reino Unido expõe um dilema ético global: até que ponto a curiosidade, a ciência e o colecionismo justificam a comercialização de partes humanas? Se por um lado a prática é legal em alguns países, por outro, as histórias de saques de túmulos e exploração em nações pobres mostram que a morte também pode ser transformada em negócio — e um dos mais sombrios.
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