O que era para ser um domingo de comemoração virou caso de emergência. O ataque de piranhas a um menino de 6 anos em uma área supostamente segura reacende discussões sobre responsabilidade, prevenção e informação no uso de espaços públicos no interior da Bahia.
No último domingo, 11 de maio, o pequeno Otávio Joaquim, de apenas 6 anos, teve parte do dedo indicador arrancada após ser atacado por piranhas enquanto tomava banho na Prainha de Lomanto, em Jequié, no centro-sul da Bahia. A tragédia aconteceu diante de familiares e amigos que buscavam apenas comemorar o Dia das Mães em um dos principais pontos de lazer da cidade.
O episódio chocante escancarou um problema que, segundo moradores e profissionais de saúde, não é novo. Ataques semelhantes já haviam sido registrados na região. A novidade, agora, é a gravidade: uma criança ferida gravemente em um espaço que deveria garantir diversão com segurança.
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Por que isso ainda acontece? Falta de sinalização, monitoramento precário e a ilusão da segurança
A Prainha de Lomanto foi reformada recentemente, em outubro de 2023, ganhando novos equipamentos de lazer, quiosques e até uma marina. Mas, apesar da reestruturação, a área sofre com um problema grave e recorrente: a presença de piranhas no lago. O mais preocupante, segundo a família de Otávio, é que não há sinalizações claras informando sobre esse risco — nem placas de alerta, nem advertências visíveis aos banhistas.
“A falsa sensação de segurança é o que revolta. Existe uma área delimitada por redes para banho, mas se essas redes não protegem de verdade, é preciso deixar claro que o banho ali não é seguro”, argumenta Ivan Bezerra, tio do menino.
Após o ataque, Ivan denunciou o caso ao Ministério Público da Bahia (MP-BA) e relatou que, no hospital, foi informado sobre outros casos recentes. “A enfermeira que nos atendeu disse que o filho dela também foi mordido por piranha ali uma semana antes. É inaceitável que isso continue acontecendo sem providências concretas”, acrescenta.
Problema já conhecido, medidas ainda em curso
A Prefeitura de Jequié afirma que acompanha o caso e que já iniciou ações emergenciais, como a instalação de uma rede metálica ao redor da área de banho — mais resistente que a anterior — para impedir a entrada das piranhas. Um comitê técnico também foi formado no início do ano para monitorar os casos e recomendar medidas preventivas.
Ainda assim, especialistas alertam que as ações de prevenção não podem ser apenas estruturais. É fundamental que a população receba orientações constantes sobre os riscos, saiba identificar comportamentos seguros e entenda, por exemplo, que o descarte de alimentos no local pode atrair os peixes. A vegetação submersa, que serve de abrigo para as piranhas, também precisa ser controlada com frequência.
A importância da educação ambiental e da transparência
A situação em Jequié evidencia a urgência de integrar políticas de lazer, saúde pública e meio ambiente de forma coordenada. Reformar áreas de lazer não é apenas construir quiosques e instalar redes de proteção. É preciso investir na conscientização dos frequentadores, na manutenção regular da fauna aquática e na criação de protocolos de segurança em caso de acidentes.
“A questão não é proibir o uso da Prainha, mas garantir que ele seja feito com responsabilidade. O mínimo que se espera é uma placa informando que há risco de ataque. Isso é informação básica, é transparência com o cidadão”, defende Ivan Bezerra.
Casos como esse podem impactar diretamente o turismo local
A Prainha de Lomanto, inaugurada em 1990, é uma referência de lazer para moradores e visitantes da região. Mas com o aumento dos relatos de ataques, a insegurança pode prejudicar o fluxo de turistas e afetar a economia local. Foi o que aconteceu com Gabriela Oliveira Quadros, de 24 anos, atacada em janeiro deste ano na mesma área de banho. “Senti a mordida no pé e na mão. Foi desesperador. Saí gritando e sangrando. Todo mundo saiu da água assustado”, lembra.
Com os recentes casos, cresce a cobrança por respostas mais rápidas, eficientes e preventivas por parte do poder público. A população, por sua vez, precisa ser incluída nas decisões e receber canais acessíveis para denunciar riscos e irregularidades.
Como se proteger em áreas naturais com riscos como esse?
Especialistas recomendam:
- Evitar nadar fora das áreas demarcadas com boias ou redes, especialmente em locais onde já houve registros de ataques;
- Nunca descartar alimentos nas margens ou dentro da água, pois isso atrai peixes predadores;
- Estar atento ao comportamento dos animais e sair imediatamente da água caso veja movimentações estranhas ou cardumes;
- Exigir informações do poder público sobre as condições da água, presença de riscos e medidas de segurança atualizadas.
O que falta é gestão contínua e compromisso com a vida
Espaços de lazer são essenciais para o bem-estar das famílias, mas segurança não pode ser opcional. O caso de Otávio não pode se transformar apenas em mais uma estatística. Ele deve ser o marco de um novo padrão de cuidado e responsabilidade — não só em Jequié, mas em todas as cidades brasileiras que investem em lazer sem garantir, de fato, a proteção dos seus cidadãos.
A tragédia poderia ter sido evitada. Agora, o que se espera é ação.
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