Imagine trabalhar por 20 anos em uma das maiores varejistas do Brasil e, de repente, tudo desabar. Foi exatamente isso que aconteceu com Fábio da Silva Abrate, ex-diretor financeiro da Americanas. Após o escândalo contábil que sacudiu a empresa, ele não só perdeu o emprego, mas também viu sua reputação e suas chances no mercado diminuírem drasticamente. Com dificuldade para se recolocar, Abrate decidiu tomar um caminho inesperado: abriu um bar na Rocinha, no Rio de Janeiro.
Vamos entender isso com calma. Abrate não foi um nome qualquer dentro da empresa. Ele foi um dos executivos que colaboraram com o Ministério Público Federal, entregando informações sobre fraudes que somavam, no mínimo, R$ 22,8 bilhões e que envolveram 13 executivos da Americanas. Importante dizer: ele não foi denunciado formalmente, mas mesmo assim a sua ligação com o caso pesou muito na carreira.
Em trechos de sua delação, aos quais a Folha de S.Paulo teve acesso, Abrate revelou como, após ser demitido em 2023, viveu o que chamou de “terra arrasada”. Não era só a ausência de emprego: era a dificuldade de reconstruir a própria imagem no mercado financeiro, um ambiente onde a confiança é o principal ativo.
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Ele até tentou outros caminhos. Abriu uma consultoria e chegou a ser contratado pela rede de moda Zinzane. A proposta era promissora — um salário de R$ 100 mil mensais — mas a oportunidade durou pouco. Poucas semanas depois, em junho de 2024, a Polícia Federal deflagrou a operação Disclosure, aprofundando as investigações sobre o caso Americanas. O cenário ficou ainda mais pesado e Abrate optou por se afastar da rede de moda.
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Foi aí que ele entendeu: seguir tentando um novo emprego em grandes empresas seria difícil. A marca do escândalo ainda pesava demais. Então, resolveu mudar o rumo e empreender. Nasceu o Brasa Boteco, um bar localizado no coração da Rocinha, aberto em sociedade com o pai. O estabelecimento foi inaugurado no ano passado e, segundo ele, ainda não dá lucro — o faturamento gira entre R$ 120 mil e R$ 130 mil.
Esse movimento de Abrate revela um ponto importante, que vale para qualquer pessoa que passa por um revés na carreira: recomeçar exige adaptação e realinhamento de expectativas. Ele deixou o topo do mundo corporativo e decidiu apostar em um negócio local, em um segmento completamente diferente. Não é um caso isolado — cada vez mais profissionais com carreiras sólidas buscam empreender quando o mercado tradicional fecha as portas.
Além disso, a escolha da Rocinha também chama atenção. Empreender em comunidades é uma estratégia que pode gerar resultados relevantes a longo prazo, especialmente se houver boa conexão com o público local e produtos que atendam a uma demanda real.
O que fica de lição?
Mesmo com uma carreira de duas décadas em uma gigante do varejo e cargos de alto escalão, uma crise pode mudar tudo. A capacidade de se reinventar e buscar caminhos alternativos é essencial. Abrate está longe de onde imaginava estar anos atrás, mas construiu uma nova rota e, com o tempo, poderá transformar o Brasa Boteco em um negócio sólido.
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