Polêmica no Pará: Quem é responsável pelo desaparecimento da ilha?

Polêmica no Pará: Quem é responsável pelo desaparecimento da ilha?

Polêmica no Pará: Quem é responsável pelo desaparecimento da ilha?

Durante décadas, a Ilha Camará, situada no município de Marapanim, Pará, serviu como refúgio para comunidades ribeirinhas, abrigando momentos de lazer e atividades cotidianas. No entanto, a partir de 2012, a ilha começou a diminuir rapidamente em tamanho, desaparecendo completamente em 2016. Esse fenômeno despertou um intenso debate sobre as causas por trás do desaparecimento.

As Alegações dos Moradores

Os moradores locais culpam a empresa de praticagem Barra do Pará pela erosão e subsequente desaparecimento da ilha. Segundo eles, as lanchas de alta velocidade utilizadas pelos práticos geram ondas que causam o assoreamento das margens e movimentam os bancos de areia. Esse impacto teria não apenas diminuído a ilha, mas também afetado negativamente a vida selvagem e as atividades de pesca local.

Daniel Oeiras, presidente da Associação dos Usuários da Reserva Extrativista Marinha Mestre Lucindo (Auremluc), destacou os danos ambientais e sociais causados pela movimentação das lanchas. Ele relatou casos de redes de pesca danificadas e impactos na fauna local, incluindo aves que foram afugentadas da região devido ao ruído e às ondas provocadas pelas embarcações.

Fatores Contribuintes

  1. Mudanças Climáticas: As mudanças no clima global têm causado alterações significativas nos padrões de água e erosão costeira, que podem ter contribuído para o desaparecimento da ilha.
  2. Atividades Humanas: A construção de barragens, desmatamento e outras atividades antropogênicas podem ter acelerado a degradação da ilha. A exploração excessiva dos recursos naturais e a ocupação desordenada podem ter desempenhado um papel importante.
  3. Fatores Naturais: Eventos naturais como enchentes, erosão e movimentos sísmicos também podem ter contribuído para o fenômeno.

A Investigação e Evidências

A denúncia dos moradores levou a uma investigação policial iniciada em 2021, com o apoio de pesquisadores da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). A professora Tabila Verena Leite, especialista em Engenharia Cartográfica, analisou imagens de satélite da região desde 1985. Seu estudo revelou que a Ilha Camará diminuiu significativamente de tamanho ao longo dos anos, evidenciando um processo de erosão acelerado.

Polêmica no Pará: Quem é responsável pelo desaparecimento da ilha?

As imagens comparativas entre a Ilha Camará e outra ilha nas proximidades, sem nome específico, mostraram que esta última não apresentou o mesmo declínio devido à ausência do tráfego das lanchas de praticagem. Tabila Leite concluiu que enquanto a erosão costeira é um processo natural na região, a atividade das lanchas parece ter exacerbado esse fenômeno na Ilha Camará.

A Defesa da Empresa de Praticagem

Por outro lado, a Barra do Pará refutou as acusações, argumentando que a região é caracterizada por estuários com uma dinâmica natural intensa. Amilcar Carvalho Mendes, geólogo e pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi, destacou que o surgimento e desaparecimento de ilhas são comuns nessas áreas devido às mudanças nas marés e movimentos de sedimentos naturais.

A empresa alegou que sua atuação na região precedeu a criação da Reserva Extrativista Marinha Mestre Lucindo e que suas atividades são regulamentadas e monitoradas. Luciana Fonseca, advogada da Barra do Pará, afirmou que os estudos apresentados no processo não estabelecem um vínculo direto entre a praticagem e os danos ambientais mencionados.

Desdobramentos Legais e Ambientais

O inquérito policial resultou no indiciamento da Barra do Pará por crimes ambientais, baseado na legislação brasileira que protege unidades de conservação e exige licenciamento adequado para atividades potencialmente poluidoras. O caso está atualmente sob análise pelo Ministério Público do Estado do Pará (MP-PA), aguardando uma decisão sobre o prosseguimento da denúncia.

Enquanto isso, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) impôs restrições à empresa, limitando o número de viagens das lanchas e exigindo medidas preventivas para mitigar os impactos ambientais na região.

Conclusão e Perspectivas Futuras

O caso da Ilha Camará destaca não apenas os desafios ambientais enfrentados pelas comunidades ribeirinhas na Amazônia, mas também a necessidade de um equilíbrio entre desenvolvimento econômico e conservação ambiental. Enquanto especialistas apontam para a importância da praticagem para a segurança da navegação na região, é crucial encontrar soluções que protejam os ecossistemas frágeis e assegurem o sustento das comunidades locais.

A partir desse embate entre interesses econômicos e ambientais, o futuro da região depende de políticas públicas eficazes, fiscalização rigorosa e um diálogo contínuo entre todas as partes envolvidas. A Ilha Camará, em sua ausência física, continua a ser um símbolo das complexas interações entre humanos e ambiente na Amazônia brasileira.

O desaparecimento da ilha é um alerta para a necessidade urgente de proteção ambiental e para a responsabilidade coletiva na preservação dos recursos naturais.

Fonte: BBC

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