Uma cena de brutalidade e justiça com as próprias mãos chocou o município de Tonantins, no interior do Amazonas, neste sábado (2). José Andrei de Matos Rodrigues, de 36 anos, foi linchado e morto por uma multidão revoltada após ser preso por matar a companheira e esfaquear a enteada. O crime bárbaro aconteceu dentro da delegacia da cidade, onde ele aguardava pelos procedimentos legais.
José Andrei havia sido detido em flagrante pelo feminicídio de Valdilene da Silva Prestes, de 44 anos, e pela tentativa de homicídio contra a filha dela, de 21 anos. Segundo as investigações, o crime ocorreu após uma discussão entre o casal, terminando de forma trágica: Valdilene foi encontrada com várias perfurações de faca e sinais de asfixia, enquanto a filha foi gravemente ferida e precisou ser internada no Hospital Frei Francisco.
A prisão do acusado, no entanto, não foi suficiente para conter a fúria popular. Desde o momento em que ele foi conduzido algemado à 54ª Delegacia Interativa de Polícia (DIP), uma multidão de moradores revoltados passou a se aglomerar em frente ao prédio. Gritos de protesto e ameaças de linchamento se intensificaram, criando um clima de tensão iminente.
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A situação fugiu ao controle quando dezenas de pessoas encapuzadas invadiram o pátio da delegacia, pulando o muro e quebrando a proteção do local. José Andrei foi arrancado da cela e espancado com pedaços de madeira diante de olhares de indignação e revolta. Um policial ainda tentou intervir, pedindo que o grupo levasse o preso para fora da unidade, numa tentativa de conter a invasão ao prédio público. Porém, a situação se agravou.
Durante o linchamento, alguém despejou um líquido inflamável sobre José Andrei, que foi arrastado para fora da delegacia. Ali, em meio a gritos e aplausos, seu corpo foi incendiado. Imagens do episódio, que circulam nas redes sociais, mostram a multidão celebrando o ato de vingança, refletindo um sentimento de descrédito em relação à justiça formal.
Em resposta à violência, a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas enviou reforços do Batalhão de Choque da Polícia Militar para a cidade. A medida visa restabelecer a ordem e evitar novos episódios de violência, enquanto a Polícia Civil iniciou uma investigação para apurar tanto o crime praticado por José Andrei quanto o linchamento ocorrido dentro da delegacia.
O caso expõe a fragilidade das estruturas de segurança em cidades do interior, onde o acesso à justiça é lento e a população, tomada pela emoção, recorre a atos extremos. Além disso, levanta um debate delicado sobre a sensação de impunidade que permeia a sociedade e que, em situações de comoção, desencadeia tragédias ainda maiores.
As investigações seguem em duas frentes: uma para esclarecer o feminicídio e a tentativa de homicídio cometidos por José Andrei, e outra para identificar os responsáveis pela invasão à delegacia e pelo linchamento. A filha de Valdilene segue internada em estado estável, segundo informações do hospital.
A Delegacia Geral da Polícia Civil do Amazonas informou que está apurando todos os detalhes e que medidas disciplinares também serão analisadas em relação à segurança da unidade policial.
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