Em um relato sincero e tocante, o ator Tony Ramos abriu o coração ao relembrar um momento marcante da sua adolescência: a primeira conversa sobre sexo – e, curiosamente, quem puxou o assunto foi ninguém menos que sua avó.
Criado pela mãe e pela avó, após o afastamento do pai, Tony teve uma infância cercada de carinho, mas também de muitos silêncios típicos da época. Durante entrevista ao jornal O Globo, publicada nesta sexta-feira (8), o ator contou que tinha entre 13 e 14 anos quando sua avó, com toda a delicadeza do mundo, o chamou para uma conversa daquelas que a gente nunca esquece.
“Filhinho, você anda pensando, assim… não sei… vontade de mulher?”, perguntou ela, com um jeitinho cuidadoso. Tony, ainda tão novo, ficou surpreso com a pergunta. “Arregalei os olhos”, lembrou ele. Era um tempo cheio de tabus — final dos anos 1950, início dos anos 60 — e só o fato de a avó abrir espaço para esse diálogo já era um avanço.
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Ela ainda disse que, se ele sentisse algo diferente, poderia conversar com os tios. Talvez ela estivesse tentando dizer, com jeitinho, que existiam formas de lidar com esse despertar da sexualidade, sem julgamentos. No entanto, um dos tios achou que ainda era cedo demais e teria dito: “Sua avó andou falando comigo, mas não tá na hora, relaxa. Quando for, eu te aviso”.
Esse tipo de história mostra como, mesmo com todas as limitações da época, o afeto e a tentativa de diálogo estavam presentes na família do ator — e ficaram marcados para sempre em sua memória.
Um homem doce, mas com limites claros
Conhecido pelo público como uma figura doce e extremamente educada, Tony também falou sobre o que realmente o tira do sério: a arrogância. Segundo ele, a soberba é algo que o incomoda profundamente. “Fico irritado com o ser humano que se acha dono da verdade absoluta. Isso não existe”, afirmou, citando inclusive um trecho profundo de Fernando Pessoa:
“Não possuímos nenhum corpo, nenhuma verdade, nem sequer uma ilusão.”
Com humildade, Tony refletiu sobre a fé e o respeito pelas diferentes crenças. “Tem gente que não acredita [em um ser maior]. Pode ser ateu. O que direi, então? Vou atacá-lo?”, disse, defendendo a empatia e a convivência pacífica entre visões de mundo diferentes.
Palavrões, bom senso e compromisso com o público
Tony também não esconde que, apesar da fama de bonzinho, ele é humano como qualquer um: já soltou palavrões, já se irritou com juízes de futebol e já deu topadas dolorosas em quinas de mesa. “Conheço 350 palavrões!”, brincou.
Mas ele reforça que tem um compromisso com o público – e, principalmente, com ele mesmo. Para ele, o bom senso deve prevalecer, principalmente quando se está diante de uma plateia tão diversa. “Quando você chama de fofura… é o mínimo”, explicou.
Com emoção, ele concluiu: “Fui criado pela minha mãe, minha saudosa avó, e sempre conversando sobre a vida.” É nessa raiz cheia de afeto, valores e humanidade que Tony Ramos se apoia para seguir sendo, há décadas, um dos nomes mais queridos da dramaturgia brasileira.
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