Você já parou para pensar no que acontece com os perfis de redes sociais quando alguém morre? Parece assunto distante, mas a verdade é que cada vez mais famílias, amigos e até empresas precisam lidar com isso. E não é simples. Se você chegou até aqui, provavelmente quer entender como funciona e o que pode ser feito para não deixar as contas abandonadas ou mal utilizadas. Vamos direto ao ponto.
O caso real de Kalu e o que ele revela
Kalu, vocalista da banda Forró da Gota, passou por isso de uma forma marcante. Mesmo internado após um AVC, ele usou o rosto para destravar a autenticação em dois fatores no celular. Fez isso para que a amiga Ana Paula Matos conseguisse acessar o perfil pessoal dele e o da banda, com o objetivo de divulgar uma campanha para ajudar nos custos do tratamento. O episódio até arrancou risadas na hora — ninguém imaginava que pouco depois ele partiria, em 13 de dezembro de 2024.
A grande questão começou após a morte. Ana Paula ficou sem saber o que fazer com os perfis. Não alimentou mais nenhum dos dois, como também não transferiu o acesso a ninguém. Esse tipo de dúvida é mais comum do que você imagina — mesmo entre os anônimos.
Participe do nosso grupo de notícias no WhatsApp: Quero Participar
O que as plataformas permitem fazer?
As redes sociais oferecem basicamente três caminhos:
- Transformar o perfil em memorial
Isso aconteceu com a conta do cantor inglês Liam Payne (ex-One Direction). No TikTok, ao lado da foto e do nome, aparece o símbolo de uma vela e a frase “Em memória”. O perfil continua lá, como um espaço para as pessoas lembrarem da vida da pessoa.
O Facebook e o Instagram também permitem essa transformação. No Kwai, a única opção é a exclusão. - Excluir a conta
Se a família preferir, pode solicitar a exclusão definitiva do perfil. É necessário apresentar documentos, como a certidão de óbito. - Deixar alguém preparado para cuidar da conta
O Facebook permite que você escolha um “contato herdeiro” ainda em vida. Essa pessoa não poderá se passar por você, mas poderá aceitar pedidos de amizade e mudar foto de perfil, por exemplo.
O importante é: ela não recebe login nem senha. Isso não é permitido.
No Instagram, essa escolha também é vinculada ao Facebook. Já o TikTok não oferece essa possibilidade.

Como tomar a decisão e garantir que ela será respeitada?
Aqui é onde muita gente erra por falta de informação. Você pode deixar registrado o que deseja fazer com suas contas em um testamento.
Sim, parece exagero, mas está se tornando algo cada vez mais comum. Como explica a advogada Ana Paula de Moraes, basta ir a um cartório com um advogado e deixar claro quem poderá acessar suas contas, além de, se quiser, informar os logins e senhas.
Isso não está preso às regras de herança. Você pode escolher um amigo, um irmão ou qualquer outra pessoa — não precisa ser herdeiro direto.
E quando não há testamento?
A família pode recorrer à Justiça. O inventariante (a pessoa responsável por administrar os bens da pessoa que morreu) pode pedir um ofício ao juiz para acessar as redes sociais. Mesmo que alguém tenha a senha, a recomendação é pedir esse documento, para evitar problemas futuros.
E se a conta gerar dinheiro?
Aqui o assunto complica um pouco. Se a conta for monetizada (como acontece com perfis de influenciadores ou músicos), e não for deixada para um herdeiro direto, pode haver briga judicial.
O Brasil ainda não tem uma lei clara sobre “herança digital”, mas uma atualização do Código Civil está sendo discutida e pode sair em 2025.
O uso da imagem e da voz depois da morte
Lembra do comercial da Volkswagen que colocou Maria Rita cantando com Elis Regina? Aquilo reacendeu o debate sobre o uso de imagem e voz de quem já morreu.
A princípio, só a própria pessoa pode dar essa autorização, mas isso pode ser transmitido aos herdeiros. Se todos eles concordarem, o uso é considerado legal. O problema é quando não há concordância ou quando ninguém deixou claro o que queria.
Como proteger a memória de quem partiu contra fake news e golpes
Foi o que aconteceu com Kalu. Depois da morte, começaram a circular montagens falsas associando o falecimento dele à vacinação contra a Covid-19. Ana Paula precisou agir: apagou comentários, tirou prints e guardou provas.
Se você passar por algo parecido, o caminho é registrar um boletim de ocorrência e juntar todas as provas digitais. A família pode pedir indenização e acionar judicialmente quem espalhou fake news ou usou a imagem de forma indevida.
O que você pode fazer agora, de forma prática?
- Se for familiar de alguém que morreu, converse com a família antes de acionar as plataformas.
- Se quiser se antecipar, defina agora quem será seu contato herdeiro no Facebook ou organize um testamento simples em cartório.
- Guarde logins e senhas em um local seguro e confiável.
- Caso precise excluir ou transformar uma conta em memorial:
→ Clique aqui para solicitar a remoção no Instagram
Compartilhe