Nove meses após o misterioso desaparecimento de dois funcionários em Salvador, o nome de Marcelo Batista volta ao centro das investigações policiais. O empresário, dono de um ferro-velho no bairro de Pirajá, foi preso nesta terça-feira (26). Mas, ao contrário do que muitos imaginavam, a prisão não ocorreu diretamente pelos desaparecimentos de Paulo Daniel Pereira Gentil do Nascimento, de 24 anos, e Matusalém Lima Muniz, de 25.
O mandado cumprido pela polícia teve como base outra acusação: a tentativa de homicídio contra três pessoas, em novembro de 2024.
De suposta vítima de furto a atirador
Segundo o delegado José Nélis, responsável pelas investigações, a história começou quando Marcelo desconfiou que itens estavam sendo roubados do ferro-velho. Um funcionário, que trabalhava há cerca de um ano no local, teria furtado materiais e contratado dois ajudantes para transportá-los.
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Foi nesse momento que o empresário, acompanhado de outros três homens — supostamente policiais —, decidiu agir. O grupo emboscou o caminhão e disparou dezenas de tiros.
As três vítimas conseguiram escapar com vida após pular do veículo em movimento, mas ficaram feridas. O caminhão ficou crivado de balas, evidenciando a brutalidade da ação. Todas relataram que Marcelo estava entre os atiradores.
O elo com o desaparecimento dos jovens
O ataque aconteceu em 3 de novembro de 2024, apenas um dia antes do desaparecimento de Paulo Daniel e Matusalém, que também eram funcionários do ferro-velho. Desde então, os dois nunca mais foram vistos.
Embora Marcelo ainda não tenha sido formalmente acusado pelas mortes, as investigações apontam que ele possa estar envolvido. A suspeita é reforçada pelo histórico do empresário, que já responde a processos por violência extrema dentro do estabelecimento.
Rede de tortura e crimes no ferro-velho
As apurações policiais revelam um cenário alarmante: Marcelo teria criado uma espécie de rede de terror no ferro-velho, marcada por ameaças, torturas e até assassinatos.
O Ministério Público da Bahia (MP-BA) já denunciou o empresário como mandante da morte de duas pessoas em 2016 — identificadas como Adson e Priscila. Agora, além do desaparecimento de Paulo e Matusalém, ele é apontado como responsável pela tentativa de execução das três vítimas em 2024.
De acordo com a polícia, Marcelo usava da violência como forma de “controlar” seus funcionários, acusando-os frequentemente de furtos, sem que houvesse provas concretas.
Ameaças e prisão preventiva
Mesmo após o ataque de novembro, Marcelo seguiu intimidando as três vítimas sobreviventes. Segundo o delegado José Nélis, em fevereiro deste ano, ele chegou a ameaçar plantar informações falsas na imprensa para prejudicar um dos alvos.
Essa conduta foi decisiva para que a Justiça decretasse a prisão preventiva. O empresário foi localizado e detido no próprio ferro-velho, no bairro de Pirajá, local marcado por denúncias de tortura e desaparecimentos.
Ele deve passar por audiência de custódia nesta quarta-feira (27).
Relembre o desaparecimento de Paulo e Matusalém
- 4 de novembro de 2024: Paulo Daniel e Matusalém saem de casa para trabalhar no ferro-velho. Nunca mais foram vistos.
- Dias depois: cães farejadores indicam que Paulo esteve no local antes de desaparecer.
- Novembro de 2024: a Justiça decreta a prisão de Marcelo, que foge e passa sete meses foragido.
- Janeiro de 2025: dois policiais militares são presos, acusados de envolvimento no sumiço dos jovens.
- Agosto de 2025: Marcelo é novamente detido, agora pela tentativa de homicídio das três pessoas baleadas.
Processos trabalhistas e denúncias acumuladas
Marcelo Batista responde a pelo menos nove processos ativos na Justiça do Trabalho. Outros 60 já foram arquivados. Entre as acusações, estão:
- atraso e não pagamento de salários,
- assédio sexual,
- tortura de funcionários,
- condições degradantes de trabalho.
Ex-funcionários relataram que o medo e o silêncio eram comuns entre trabalhadores do ferro-velho. Muitos aceitavam as condições precárias por necessidade financeira, sem imaginar que a rotina poderia terminar em tragédia.
o que esperar daqui para frente
Com a prisão de Marcelo, a polícia busca esclarecer se ele foi, de fato, o responsável pelas mortes e desaparecimentos ligados ao ferro-velho. Ainda que haja contradições nos depoimentos, o histórico do empresário reforça a suspeita de que Pirajá foi palco de uma sequência de crimes brutais nos últimos anos.
Enquanto a investigação segue, famílias de Paulo Daniel e Matusalém continuam sem respostas — sem saber o destino dos jovens desaparecidos em novembro do ano passado.
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