Em um mundo onde a relação entre humanos e animais costuma seguir limites bem definidos, a história de Gilberto “Chito” Shedden e do crocodilo Pocho surpreendeu e emocionou pessoas de diferentes países. O que começou como um gesto de compaixão se transformou em uma conexão rara, capaz de desafiar o que muitos consideravam impossível.
Tudo teve início na década de 1980, quando Chito, um pescador da Costa Rica, encontrou um crocodilo gravemente ferido às margens do rio Reventazón. O animal havia sido baleado na cabeça e estava à beira da morte. Em vez de deixá-lo no local, como seria o esperado, Chito decidiu levá-lo para casa. Durante meses, dedicou-se a cuidar dos ferimentos do crocodilo, alimentando-o com frango e peixe, além de oferecer remédios e atenção constante. Foi assim que o réptil ganhou o nome de Pocho.

Depois de sua recuperação, Chito tentou reintroduzir o crocodilo no habitat natural. No entanto, Pocho demonstrou um comportamento inesperado: recusou-se a ir embora. Passou a seguir o pescador por onde ele andava e, todas as noites, repousava na varanda de sua casa. Foi nesse momento que a relação entre os dois tomou um rumo extraordinário.
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Ao longo de mais de 20 anos, Chito e Pocho viveram lado a lado, construindo uma amizade que desafiava o senso comum e intrigava especialistas. Cientistas, veterinários e curiosos de várias partes do mundo viajaram até a Costa Rica para observar de perto essa ligação incomum. O que muitos queriam entender era como, apesar do risco natural envolvido no contato com um animal selvagem de grande porte — quase cinco metros de comprimento e 445 quilos —, ambos conseguiam conviver de forma harmoniosa.
Chito afirmava que a confiança foi fruto de anos de convivência cuidadosa, paciência e respeito mútuo. Ele dizia conversar com o crocodilo e até dormir ao lado dele para reforçar esse vínculo. Em apresentações realizadas para turistas, o pescador mostrava o nível de cumplicidade que haviam alcançado: nadava ao lado de Pocho e o fazia obedecer comandos simples como dar a pata, girar sobre o próprio corpo e até piscar um dos olhos.
A história também lançou um olhar importante sobre as capacidades emocionais de répteis, um tema que ainda gera debates entre cientistas. Muitos especialistas passaram a questionar se a relação com Chito poderia indicar que crocodilos são capazes de desenvolver algum tipo de vínculo social, algo que antes não era amplamente aceito na biologia.

Pocho faleceu em 2011 e recebeu um funeral público, acompanhado por moradores da região e admiradores da dupla. Mesmo após sua morte, a história de Chito e Pocho continua sendo lembrada na Costa Rica e fora dela como um exemplo tocante de empatia, dedicação e conexão entre espécies diferentes.
Essa narrativa nos convida a refletir sobre como a paciência e o respeito podem, em situações raras, romper barreiras que parecem intransponíveis — mostrando que, em alguns casos, a linguagem do cuidado fala mais alto que qualquer instinto natural.
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