A tragédia que abalou moradores e trabalhadores do Pantanal sul-mato-grossense ainda está cercada de perguntas sem resposta. Jorge Avalo, conhecido por muitos como “Jorginho”, tinha 60 anos e trabalhava como caseiro em uma propriedade rural na região de Touro Morto, entre os municípios de Miranda e Aquidauana. Na última segunda-feira, 21 de abril, ele perdeu a vida de forma brutal: foi atacado e morto por uma onça-pintada.
Na manhã do dia seguinte, 22, equipes de busca localizaram os restos mortais de Jorginho em uma área de mata fechada, a cerca de 280 metros do rancho onde ele morava e trabalhava. O laudo da perícia confirmou que os ferimentos eram compatíveis com o ataque de um grande felino — e tudo indica que a onça-pintada foi a responsável.
Agora, a Polícia Militar Ambiental (PMA) busca entender o que motivou esse comportamento tão incomum. Embora a onça seja um animal selvagem e predador por natureza, ataques a humanos são raros, especialmente no Pantanal, onde o convívio entre comunidades e fauna silvestre ocorre há décadas.
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Fome e defesa territorial estão entre as hipóteses
A PMA trabalha com algumas possibilidades para explicar o ataque. A principal delas é a escassez de alimento na região, causada pela diminuição de presas naturais, como capivaras, jacarés e outros animais que fazem parte da dieta da onça. Com menos recursos disponíveis, o animal pode ter se aproximado de áreas habitadas em busca de sobrevivência.
Outra hipótese considerada é que o felino agiu de forma defensiva. Isso pode ter acontecido se Jorginho, mesmo sem querer, invadiu o território da onça ou se aproximou de algum filhote. Nesse caso, o ataque não teria sido predatório, mas sim uma reação instintiva de proteção.
A dor de quem fica
O caso de Jorginho não é só uma estatística. É uma perda irreparável para a família, amigos e colegas de trabalho. Era um homem simples, acostumado com a lida na mata, com anos de experiência no Pantanal. A tragédia levanta um alerta importante: até mesmo quem conhece bem a natureza está sujeito aos riscos do desequilíbrio ambiental.
O que se discute agora vai além da fatalidade. As autoridades e especialistas buscam respostas para impedir que novos ataques como esse aconteçam. É preciso entender como o meio ambiente tem sido afetado e como isso influencia diretamente o comportamento dos animais selvagens.
Um retrato de um Pantanal em desequilíbrio?
Nos últimos anos, o Pantanal tem enfrentado uma série de desafios: queimadas, estiagens severas e alterações no ciclo das cheias. Tudo isso afeta a disponibilidade de alimento e de abrigo para os animais. Quando o equilíbrio natural é rompido, o encontro entre homem e fera se torna mais provável — e mais perigoso.

A morte de Jorginho é, portanto, um sinal de alerta para a necessidade urgente de preservar o bioma pantaneiro. Não se trata apenas de proteger espécies ameaçadas, mas também de garantir a segurança das pessoas que vivem e trabalham em contato com a natureza.
Um ponto turístico agora marcado pela dor
A região onde tudo aconteceu é conhecida por atrair turistas e pescadores de todo o Brasil. O Rio Miranda, que corta a área, é um dos cartões-postais do ecoturismo local. Mas agora, esse cenário que já foi símbolo de tranquilidade virou palco de uma tragédia difícil de esquecer.
Para os moradores, fica o medo. Para as autoridades, o desafio. E para todos nós, a lição: a natureza cobra caro quando não é respeitada ou compreendida.
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