A cidade de Pirenópolis, conhecida por sua forte tradição religiosa e importância histórica, foi palco de uma grande controvérsia envolvendo a imagem de Nossa Senhora das Dores. A peça sacra, datada do século XVIII e exposta na Igreja Nossa Senhora do Rosário, passou recentemente por uma intervenção estética que causou indignação entre os devotos e chamou a atenção das autoridades de preservação.
O motivo da revolta? Durante a restauração, a imagem original — que retratava a santa com expressão de dor e lágrimas no rosto, simbolizando seu sofrimento — teve traços importantes suavizados. Fiéis relatam que a santa agora aparece com maquiagem visível, incluindo blush nas bochechas, lábios mais coloridos e até cílios postiços, descaracterizando totalmente sua simbologia de dor e compaixão.
“Ela está sem a lágrima, sem a feição. Está praticamente maquiada. É a mãe de Jesus. Quando chega essa época do ano, queremos rezar, nos conectar. Mas essa imagem sempre teve uma expressão que tocava a gente, fazia a gente refletir. Agora parece outra figura”, desabafou Helena Cristina de Pina, fiel que frequenta a igreja há anos.
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A restauração, que não foi comunicada nem autorizada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), será alvo de perícia técnica. O órgão afirmou que uma equipe esteve na Igreja Matriz em março e não foi informada sobre qualquer necessidade de restauro. Diante das mudanças visíveis, o Iphan emitiu um ofício à Diocese de Anápolis, responsável pela administração da igreja, exigindo esclarecimentos formais.
A Diocese, por sua vez, declarou por meio de nota que irá cooperar com as investigações e deixará a imagem à disposição do instituto para análise detalhada.
A situação levantou um debate importante sobre preservação do patrimônio histórico-religioso e os limites da intervenção estética em objetos de culto. Para muitos devotos, não se trata apenas de uma obra de arte, mas de um símbolo espiritual carregado de significado e memória coletiva. Modificá-lo sem o devido cuidado é, para muitos, uma forma de apagar parte da identidade cultural e religiosa da comunidade.
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