Você já ouviu falar dos bebês reborn? São aquelas bonecas extremamente realistas, feitas à mão para se parecerem com bebês de verdade. Elas se tornaram uma febre — tanto no Brasil quanto no exterior. Muita gente coleciona, outras usam como forma de terapia para lidar com o luto gestacional, infertilidade ou solidão. Mas recentemente, uma polêmica grave acendeu um alerta em torno desse universo.
Um comentário feito no TikTok chamou atenção pela gravidade. Um usuário perguntou, em inglês, se uma boneca reborn teria “algum buraco”, insinuando algo de teor sexual. A pergunta foi direcionada a uma influenciadora que cria conteúdo sobre bonecas reborn. Revoltada, ela expôs o comentário e, rapidamente, o caso gerou indignação e mobilização para denunciar esse tipo de conteúdo.
E aí a pergunta surge: será que bonecas reborn podem, de alguma forma, ser usadas para alimentar comportamentos pedófilos?
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A psicóloga clínica e social Flávia Borges, em entrevista ao portal Metrópoles, foi direta: não há provas científicas de que bonecas reborn, usadas da forma adequada, estejam associadas a pedofilia. Pelo contrário, elas têm fins terapêuticos importantes para muitas pessoas. O problema, segundo ela, começa quando o propósito original é distorcido.
O que é importante entender aqui?
Existe uma diferença clara entre:
- Bonecas reborn feitas para simular o cuidado maternal ou ajudar na saúde emocional;
- E produtos fabricados propositalmente com aparência infantil para satisfazer fetiches sexuais, o que é inaceitável.
Esse segundo caso nada tem a ver com o universo reborn que cumpre funções terapêuticas. No entanto, isso não significa que devemos ignorar os riscos de desvio de finalidade.
Infelizmente, esse não é um caso isolado. Em 2018, a Amazon foi criticada por permitir a venda de bonecas com aparência infantil e uso sexual, que estavam disponíveis no marketplace por meio de terceiros. Após pressão de organizações, o conteúdo foi removido. Outro exemplo chocante é o de Shin Takagi, no Japão, que chegou a fabricar bonecas infantis com fins sexuais, sob a alegação absurda de que isso “salvaria crianças reais de abusos” — algo totalmente rejeitado por especialistas.
O uso sexual de objetos infantis não previne crimes
Flávia Borges reforça um ponto essencial: não existe base científica para acreditar que bonecas com aparência infantil possam funcionar como uma “válvula de escape” para pedófilos. Pelo contrário, esse tipo de uso pode reforçar fantasias criminosas. A única abordagem segura é o tratamento psicológico especializado, com acompanhamento de profissionais capacitados para lidar com parafilias (desejos sexuais desviantes).
Onde entra a responsabilidade?
Esse tipo de caso mostra como é urgente falar sobre limites e sobre o papel das redes sociais nesse processo. É preciso que as plataformas digitais monitorem mais de perto os comentários e denunciem conteúdos suspeitos com agilidade. Também cabe à sociedade discutir e fiscalizar o uso de produtos que podem ser distorcidos e usados de maneira criminosa.
O simples fato de alguém fazer um comentário pedófilo sobre uma boneca deveria ser o suficiente para gerar ação imediata — e é exatamente isso que muitos usuários estão exigindo das redes.
Por que os bebês reborn viraram febre?
Mesmo com a polêmica, é importante lembrar: a maioria das pessoas que compra um reborn não tem más intenções. Os bebês reborn chegaram ao Brasil no início dos anos 2000 e conquistaram um público fiel. Só nas redes sociais, há mais de 1,3 milhão de seguidores de páginas dedicadas ao tema. Os preços variam de R$ 850 a quase R$ 6 mil, e cada boneca pode levar até 15 dias para ficar pronta — um trabalho totalmente artesanal.
Para muitas pessoas, é um apoio emocional, quase como um “acolhimento” simbólico. Outros veem como arte. E tudo isso é legítimo, desde que respeitados os limites éticos.
O que podemos tirar disso tudo?
- Precisamos diferenciar o uso terapêutico do uso criminoso.
- Não há desculpa para fetichização de objetos infantis.
- O combate à pedofilia passa por educação, denúncia e tratamento adequado.
- As plataformas digitais devem se responsabilizar por moderar conteúdos.
- A sociedade precisa discutir mais, sem tabus, o que é saudável e o que é desvio.
Falar sobre esse tipo de tema pode ser desconfortável, mas é absolutamente necessário. Ignorar que comportamentos criminosos podem se esconder atrás de algo aparentemente inocente é permitir que esses abusos continuem acontecendo.
Se você vir algo suspeito na internet, não fique calado. Denuncie. E se precisar de apoio psicológico, procure profissionais e serviços especializados — como o Centro de Valorização da Vida (CVV) ou serviços de saúde mental pública e privada.
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