Ex-delegado-geral ameaçado por facção: revelações inéditas sobre retaliação

O delegado aposentado Bernardino Brito Filho construiu uma trajetória de 35 anos na Polícia Civil da Bahia (PCBA). Nesse período, atuou em diversas delegacias do interior, assumiu cargos de direção e chegou ao topo da corporação em 2015, quando foi nomeado delegado-geral. A posição de comando, no entanto, não o blindou contra a ousadia do crime organizado.

Fui ameaçado por um chefe do tráfico”, revelou Bernardino, em entrevista exclusiva ao Correio. Segundo ele, mesmo ocupando a chefia máxima da polícia, as intimidações não cessaram.

Hoje aposentado, o ex-delegado afirma viver uma realidade de exposição e insegurança, semelhante à de outros colegas que ocuparam cargos estratégicos na segurança pública. Nenhum deles conta com escolta após deixar a função.

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O peso das ameaças

Bernardino recordou o episódio recente da morte do ex-delegado-geral de São Paulo, Ruy Ferraz, assassinado no último dia 15. O colega foi perseguido e executado por criminosos encapuzados, após já ter sido ameaçado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) por transferir lideranças da facção para presídios federais.

“Era um gestor muito ativo, inteligente. Fomos contemporâneos, fizemos cursos juntos e ele chegou a participar de encontros de delegados-gerais na Bahia”, disse Bernardino, consternado com a execução.

A lembrança trouxe à tona as próprias ameaças que recebeu no exercício da função. De acordo com ele, um líder de facção criminosa ordenou que o próprio filho levasse o recado de intimidação. O ex-delegado não detalhou o teor da mensagem, mas garantiu que, na época, as forças de segurança não se intimidaram e seguiram com as operações.

Vida após a aposentadoria

Desde que deixou a corporação, Bernardino decidiu se afastar das funções públicas. Apesar de convites para assumir cargos de destaque na iniciativa privada e até em secretarias municipais, preferiu recusar.

“Foram 35 anos de polícia. Achei que era a hora de descansar. Ainda recebo convites, mas não quero”, explicou.

O colega assassinado em São Paulo, Ruy Ferraz, por outro lado, continuava ativo. À frente da Secretaria de Administração de Praia Grande (SP), ele foi emboscado e morto enquanto se deslocava de carro.

Um recado do crime organizado

Para Bernardino, o assassinato de Ruy não foi apenas um ataque pessoal, mas uma mensagem clara das facções contra o Estado.

“Foi uma demonstração de vingança, um recado. Não podemos permitir que cresça um estado paralelo. A vulnerabilidade é grande”, afirmou o ex-delegado, que também não dispõe de proteção oficial.

Outro ex-dirigente da Polícia Civil da Bahia, ouvido pela reportagem, reforçou a gravidade da situação. “É uma ousadia o tráfico se colocar acima das instituições policiais. É preciso fortalecer as ações, endurecer o enfrentamento para que a sociedade possa viver em tranquilidade”, disse.

Resposta das instituições

O Correio procurou a Polícia Civil da Bahia (PCBA), a Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA) e o Sindicato dos Delegados de Polícia da Bahia (Adpeb) para comentar a ausência de segurança destinada a ex-delegados-gerais. Até o fechamento desta edição, não houve retorno. O espaço segue aberto para posicionamento.

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