O esquema comandado por Thiaguinho, Demenor, Netinho e Danone, líderes da facção Bonde do Maluco (BDM), é uma triste realidade que afeta centenas de famílias carentes no Conjunto Fazenda Grande II, parte do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), em Salvador. Atuando como “corretores do tráfico”, esses homicidas utilizam métodos violentos para expulsar moradores e lucrar com a venda e aluguel ilegal de imóveis subsidiados pela Caixa Econômica Federal.
Como o esquema funciona?
Thiaguinho, apontado como líder, exerce controle absoluto. Ele permanece estrategicamente nos blocos ao fundo do conjunto, enquanto seus “olheiros” monitoram entradas e saídas nos prédios da frente, atentos à presença da polícia ou de qualquer suspeito. Quem desobedecer às ordens está sujeito a represálias fatais, o que gera um clima de medo entre os moradores.
Os imóveis, que deveriam garantir moradia digna a famílias de baixa renda, são vendidos por até R$ 30 mil ou alugados por valores que variam entre R$ 300 e R$ 500. As negociações são feitas de forma clandestina, muitas vezes com contratos informais, conhecidos como “contratos de gaveta”. Apenas pessoas com ligações diretas à facção, como parentes ou fugitivos, conseguem acesso a esses apartamentos.
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O impacto nas famílias
A violência desse esquema atinge principalmente aqueles que possuem parentes ou amigos policiais. Esses moradores são os primeiros a serem expulsos, já que representam uma ameaça ao controle da facção. As famílias desalojadas sofrem não apenas com a perda de seus lares, mas também com o peso financeiro, já que continuam pagando os subsídios à Caixa Econômica Federal, na esperança de um dia reaverem suas propriedades.
Um ex-morador do Conjunto Fazenda Grande II relata:
“Quando fui contemplada, assinei um contrato que proibia a venda ou transferência do imóvel até sua quitação. Mesmo assim, fui expulsa e continuo pagando, acreditando que um dia poderei retornar para minha casa.”
A extensão do problema
O esquema não se limita ao Conjunto Fazenda Grande II. Em Salvador, há denúncias semelhantes em outros cinco conjuntos habitacionais do programa Minha Casa Minha Vida. Além disso, a atuação da facção se estende para cidades da região metropolitana e do interior, como Simões Filho, Feira de Santana, Santo Amaro da Purificação e Jequié.
Essas práticas criminosas têm acontecido há pelo menos oito anos, com pouca ou nenhuma intervenção eficaz. A omissão no combate a esse tipo de crime reforça a sensação de impunidade e de vulnerabilidade entre as famílias que deveriam ser protegidas pelo programa habitacional.
A fragilidade do sistema
Os contratos assinados com a Caixa Econômica Federal estabelecem que os imóveis são invendáveis e intransferíveis até a quitação total, mas a realidade mostra que esses termos são constantemente violados. Os criminosos aproveitam brechas na fiscalização e vendem os apartamentos em sites como OLX, onde anúncios ilegais muitas vezes passam despercebidos.
A situação escancara a fragilidade do programa Minha Casa Minha Vida diante de organizações criminosas. Em vez de garantir moradia segura, os conjuntos habitacionais se tornam territórios dominados por facções, onde o direito à moradia é substituído por ameaças, violência e exploração.
O lucro da facção
Com 580 apartamentos no Conjunto Fazenda Grande II, sendo a maioria sob controle do BDM, o faturamento mensal é exorbitante. Apenas com aluguel, os valores arrecadados podem chegar a R$ 290 mil por mês, enquanto a venda ilegal multiplica ainda mais os lucros. Esses números revelam um negócio lucrativo para a facção, que utiliza o programa federal para expandir seu poder e riqueza às custas do sofrimento de famílias vulneráveis.
A necessidade de ações concretas
O que está acontecendo em Salvador e em outras cidades é uma grave violação dos direitos humanos e do propósito do programa Minha Casa Minha Vida. As autoridades precisam agir para desmantelar esses esquemas, proteger as famílias e garantir que os imóveis voltem às mãos dos verdadeiros beneficiários.
Enquanto não houver uma atuação integrada entre polícia, Ministério Público e a Caixa Econômica Federal para investigar e combater essas práticas, o ciclo de violência e exploração continuará. É essencial que os moradores afetados sejam ouvidos e protegidos, além de serem tomadas medidas para impedir a ação de facções criminosas em programas habitacionais.
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