Quando o mundo ouve a tradicional frase “Habemus Papam” e o nome do novo pontífice é anunciado, muitos se perguntam: como o papa escolhe o nome pelo qual será conhecido? A escolha não é aleatória, nem apenas simbólica. Trata-se de um gesto carregado de significado histórico, teológico e pessoal, que orienta o modo como o novo papa deseja conduzir o seu pontificado.
Um gesto que revela intenções
Ao adotar um novo nome, o papa envia uma mensagem clara ao mundo sobre o rumo que pretende dar à Igreja. A prática de escolher um nome diferente do batismo começou no século VI, com o papa João II, que abandonou o nome de nascimento — Mercúrio — por considerar inadequado um nome pagão para um líder cristão. Desde então, a escolha de um nome passou a refletir valores, homenagens a santos ou papas anteriores, ou ainda ideais pastorais que o pontífice quer ressaltar.
No caso do recém-eleito papa Leão XIV, o nome escolhido evoca a figura de Leão XIII, conhecido no final do século XIX por sua encíclica Rerum Novarum, um marco no pensamento social da Igreja. Com isso, Robert Prevost sinaliza que seu papado deve dialogar com questões sociais contemporâneas, assim como seu antecessor homônimo fez em tempos de profundas mudanças econômicas e sociais.
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Como funciona a escolha?
O momento da escolha acontece logo após a eleição, dentro da Capela Sistina. Ao ser confirmado como novo papa, o cardeal eleito é questionado se aceita a missão. Caso aceite, ele é imediatamente perguntado: “Como deseja ser chamado?”
A resposta dada será o nome pelo qual será reconhecido enquanto durar seu pontificado. O escolhido não precisa justificar formalmente o motivo da decisão, mas muitas vezes, em discursos posteriores, os papas explicam a inspiração por trás da escolha.
O novo nome é então comunicado ao cardeal protodiácono, que o anuncia ao público na Praça de São Pedro, junto à expressão “Habemus Papam”.
Por que a escolha do nome importa?
Mais do que uma formalidade, o nome papal tem peso na orientação pastoral e política da Igreja. Por exemplo:
- Francisco, escolhido por Jorge Mario Bergoglio, indicou uma prioridade à simplicidade, à pobreza e à defesa dos excluídos, inspirando-se em São Francisco de Assis.
- Bento XVI, ao adotar o nome Bento, associou-se ao legado de Bento XV (papa da paz durante a Primeira Guerra Mundial) e a São Bento, referência de estabilidade e tradição monástica.
- Agora, Leão XIV aponta para um papado atento às questões sociais e aos desafios éticos do mundo atual, mantendo um equilíbrio entre tradição e renovação.
Existe alguma regra para a escolha?
Tecnicamente, não há regras rígidas sobre o nome que o papa deve adotar. Entretanto, alguns costumes foram se firmando ao longo dos séculos:
- Nomes de papas polêmicos ou antipapas (que disputaram o trono de forma ilegítima) são evitados.
- O título de Pedro II nunca foi usado, por respeito ao apóstolo Pedro, considerado o primeiro papa.
- Geralmente, os nomes escolhidos remetem a santos, papas anteriores ou figuras relevantes da história da Igreja.
O que esperar de Leão XIV?
Ao escolher esse nome, Prevost sugere que seu papado estará atento aos desafios do mundo moderno, especialmente no campo social, sem perder a base doutrinária da Igreja. Assim como Leão XIII foi pioneiro em abordar os direitos dos trabalhadores, Leão XIV pode direcionar o foco para as novas questões sociais do século XXI — desigualdades, migrações, tecnologia e mudanças culturais — sempre à luz da fé.
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