Câmera do CV: vídeos da ataques da facção são encontrados em celulares de traficantes

Operação em Caraíva desmantela ação do Comando Vermelho e expõe bastidores de guerra entre facções no extremo sul da Bahia

A operação que resultou na morte de cinco integrantes do Comando Vermelho (CV) em Caraíva, distrito de Porto Seguro, não apenas neutralizou parte do grupo criminoso, como revelou os bastidores de uma violenta disputa territorial entre facções rivais no extremo sul da Bahia. Investigações conduzidas pela polícia encontraram vídeos gravados pelos próprios traficantes que escancararam a estratégia de ocupação de áreas dominadas por outras facções, como o Bonde do Maluco (BDM).

Um dos registros, feito em meio à mata, mostra criminosos do CV armados e em pleno confronto. Nas imagens, os homens comemoram a invasão de um ponto de tráfico controlado por rivais. Em tom de provocação, um dos criminosos declara: “Nós estamos dentro, meu grupo sufoca. Bem na biqueira dos comédia atuando e mantendo”, em referência ao domínio do local.

Em outro vídeo, traficantes mostram objetos roubados de um acampamento supostamente controlado por membros do BDM. “Pegamos tudo. Os caras correram. Aqui é CV”, diz um dos homens ao exibir materiais tomados após o ataque. Os vídeos funcionavam como troféus e formas de intimidação, além de servirem como “provas de lealdade” a líderes da facção.

Entre os mortos na operação, está Gabriel Lima da Silva, conhecido como Cobrinha. O nome já era conhecido pelas autoridades devido à sua atuação violenta na região. Cobrinha não era apenas um executor de invasões: ele foi identificado como responsável direto pelo assassinato brutal de Anna Luiza Lima Brito, em Eunápolis. A jovem foi sequestrada, esquartejada e decapitada por ele no dia 25 de junho, em um crime que causou comoção e revolta na Bahia.

Segundo a polícia, Cobrinha estava em Caraíva quando foi morto em confronto durante a Operação Vértice Zero. Ele já havia sido filmado com Anna Luiza dias antes de sua morte, em uma loja de conveniência, ao lado de Matheus Rodrigues de Souza, suposto integrante do CV, que foi executado a tiros em 23 de junho. A suspeita é que Anna teria ajudado a entregar Matheus para rivais do BDM, o que motivou sua execução por Cobrinha como forma de retaliação.

A operação em Caraíva representa um ponto de virada no enfrentamento à guerra de facções que vem tomando proporções alarmantes no sul da Bahia. O material encontrado — vídeos, áudios e relatos — reforça a atuação estruturada e agressiva desses grupos, que usam estratégias de guerrilha para avançar sobre territórios inimigos. Para especialistas, o caso evidencia a urgência de uma atuação coordenada e contínua do poder público, não apenas em ações repressivas, mas também em políticas de segurança integradas com ações sociais.