Baiano realiza sonho e vira padre aos 52 anos após acreditar que seria o novo papa

A história da Igreja Católica nunca contou com um brasileiro no cargo mais alto do Vaticano — o papado. Mas pouca gente sabe que um baiano chegou a nutrir seriamente essa ambição e fez de sua vida uma jornada marcada por fé, controvérsias e uma busca implacável por um destino que ele acreditava ser divinamente traçado.

Antônio Dias Quaresma nasceu em Salvador em 1681, em um Brasil ainda profundamente marcado pela colonização e pelo regime escravocrata. Dono de terras, minas e escravos, ele construiu fortuna em várias regiões do país — passando por São Paulo, Minas Gerais e outras localidades — ao mesmo tempo em que se dedicava intensamente ao estudo de textos religiosos e místicos. Autodidata, leitor voraz e escritor constante, Quaresma vivia entre o pragmatismo dos negócios e a inquietação espiritual.

Em dado momento, sua vida deu uma guinada inesperada. Em um movimento radical, abandonou a família, os bens e o prestígio para seguir o que interpretava como um chamado divino. Cruzou o oceano rumo à Europa, onde peregrinou até a Santa Casa de Loreto, na Itália — um dos mais importantes centros de devoção mariana. Foi nessa viagem que, segundo ele próprio, teve uma experiência mística definitiva. Pouco depois, ingressou na Ordem dos Servos de Maria, em Roma, e aos 52 anos se ordenou sacerdote, adotando o nome de frei Uguccione Maria Antônio.

Participe do nosso grupo de notícias no WhatsApp: Quero Participar

Sua presença em Roma não passou despercebida. Logo ganhou notoriedade como “o santo vindo das terras do Além-Mar”, expressão que refletia tanto sua origem exótica quanto a aura de devoção que carregava. A partir dali, passou a alimentar o sonho que norteou seus passos até o fim da vida: ser eleito Papa.

Embora esse objetivo não tenha se concretizado, a trajetória de Quaresma deixou marcas expressivas. Seu legado inclui um conjunto raro de documentos históricos, que hoje são fontes preciosas para compreender tanto a história da Igreja quanto o Brasil colonial. Suas ideias e projetos, ainda que vistos por muitos contemporâneos como excêntricos ou utópicos, revelam como noções messiânicas e ambições de poder se entrelaçavam, mesmo fora do eixo europeu dominante.

A historiadora Maria Lêda Oliveira, autora da obra O Baiano que Sonhou Ser Papa, destaca que a trajetória de Quaresma está longe de ser apenas uma curiosidade exótica. “Ele existiu, sua história é real e nos ajuda a entender como ideias grandiosas, movidas por fé e convicções pessoais, podem influenciar projetos de poder e até tentar moldar os rumos da História, mesmo sem alcançar o objetivo final”, afirma.

Maria Lêda ressalta ainda que Quaresma construiu uma visão de mundo onde o racionalismo europeu da época convivia com concepções messiânicas próprias, alimentadas por suas experiências e leituras. “Sua vida é um lembrete de que o ideal de progresso sempre foi desafiado por visões particulares de destino e espiritualidade, algo que continua atual até hoje”, pondera a historiadora.

A história de Antônio Dias Quaresma é, acima de tudo, um retrato de como fé, ambição e identidade cultural podem se cruzar em projetos ousados, capazes de atravessar séculos e lançar luz sobre as complexidades de uma época.

Compartilhe

📱 Participe do nosso grupo no WhatsApp e receba as notícias em tempo real:

Grupo do WhatsApp

📸 Não perca nenhuma atualização! Siga-nos no Instagram:

Coruja News no Instagram

© Todos os direito reservados ao Coruja News! Não é permitido cópia!