Quem é a primeira baiana na lista de desaparecidos das caixas de leite? Entenda o caso

A imagem de Bianca Cerqueira Faria vai estampar caixas de leite em todo o Brasil. Ela é a primeira baiana a integrar o projeto nacional Desaparecidos, uma iniciativa que alia tecnologia de ponta à força das prateleiras dos mercados para tentar localizar pessoas desaparecidas.

Bianca tinha 14 anos quando saiu de casa, em Salvador, para encontrar uma amiga e nunca chegou ao destino. O desaparecimento foi registrado em 2 de janeiro de 2005 — data que Diego Ângelo, irmão da jovem, guarda com exatidão. Hoje, passadas duas décadas, Bianca teria 34 anos. Mesmo com o tempo, a família não perdeu a esperança. Pelo contrário: a foto dela, atualizada com a ajuda da Inteligência Artificial, começará a circular em embalagens de leite a partir de junho de 2025.

Como a tecnologia ajuda?

O projeto Desaparecidos foi lançado em outubro de 2024 pelo Grupo Piracanjuba. A ação começou com 19 fotos de desaparecidos nas embalagens de leite líquido e em pó. Agora, mais 50 rostos se somam — e a vez de Bianca chegou.
Como as únicas imagens disponíveis dela são de 20 anos atrás, a Piracanjuba recorreu a um especialista: o artista digital Hidreley Dião, reconhecido por usar projeção de idade com Inteligência Artificial.

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Com base em fotos antigas e imagens de pais e avós de Bianca, Hidreley recriou o possível rosto dela hoje. O resultado é surpreendente. “Eu já fiz testes com pessoas que me enviaram fotos da infância e a semelhança é incrível”, conta o artista.

A ideia é simples, mas poderosa: usar o espaço das embalagens para gerar empatia, aumentar a visibilidade dos desaparecidos e ajudar nas buscas. “É uma forma de colocar o marketing a serviço de uma causa social, o que está alinhado com o propósito da marca”, explica Lisiane Campos, diretora de marketing da Piracanjuba.

A força das mães

O projeto é realizado em parceria com a Associação Mães da Sé, criada em 1996 por Ivanise Espiridião, que também busca sua filha desaparecida há 30 anos. A associação já ajudou a localizar 5.796 pessoas e mantém cerca de 6 mil casos ativos.

A mãe de Bianca, Iracema, é uma dessas integrantes. Há 20 anos, ela não mede esforços para encontrar a filha. Sempre que a família recebe alguma pista — mesmo falsas —, Iracema vai pessoalmente aos locais.
“Eu achava que mainha ia enlouquecer. Ela emagreceu muito e parou de trabalhar”, relembra Diego, irmão de Bianca e policial militar.

O sofrimento é semelhante ao de Jeisa Santana, de Feira de Santana, que procura a filha Gabrielly, desaparecida em 2017 aos 7 anos. Apesar de um crânio ter sido encontrado e vinculado ao caso, exames e o próprio perito contestaram essa conclusão. Jeisa segue firme e também aguarda a inclusão da foto da filha no projeto.
“Eu nunca desisti e nunca vou desistir”, afirma.

A realidade do desaparecimento na Bahia

Na Bahia, 9.085 pessoas desapareceram entre 2015 e 2025 — uma média de 7 desaparecimentos por dia, segundo dados do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp). A maioria das vítimas são homens (5.524) e adultos (5.781).

Em 2025, até março, 951 casos já foram registrados, consolidando a tendência de aumento que vem desde 2022.
A Polícia Civil reforça que não é necessário aguardar 24 horas para registrar um desaparecimento. O boletim de ocorrência pode ser feito presencialmente ou pela delegacia eletrônica.

A lista oficial de desaparecidos na Bahia está disponível no Instagram da Delegacia de Proteção à Pessoa (@desaparecidospcba) e no site da Polícia Civil. Informações podem ser enviadas pelo WhatsApp (71) 99631-6538 ou telefone (71) 3116-0124.

Por que esse projeto importa?

O desaparecimento de uma pessoa não é apenas uma estatística. É um buraco que consome famílias, corrói esperanças e impõe um luto sem corpo e sem fim. “Se a gente sabe que morreu, sofre um período e depois melhora. Mas quando a pessoa desaparece, você vive com a dúvida todos os dias”, desabafa Diego.

Com a projeção do rosto de Bianca nas embalagens, a família acredita que novos olhos podem reconhecer traços, dar informações ou, ao menos, manter a memória viva.

Para milhares de famílias, um simples olhar numa caixinha de leite pode mudar tudo.

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