Ela sonhou com os números da Mega-Sena, mas o bilhete não foi registrado: “Tudo desabou”
Imagine acordar no dia seguinte ao sorteio da Mega-Sena e perceber que os números sorteados eram exatamente os que você havia sonhado. Agora imagine descobrir que, por um erro, sua aposta não foi registrada. Foi exatamente isso que aconteceu com Mara Hoffmann, dona de uma ótica em São Bento, cidade do sertão da Paraíba.
No concurso 2524 da Mega-Sena, em 28 de setembro de 2022, o prêmio chegou a impressionantes R$ 201,9 milhões. Nenhuma aposta registrada acertou as seis dezenas, mas Mara garante que teria sido a única ganhadora — se a lotérica não tivesse cometido uma falha grave.
Ela contou à imprensa que teve um sonho com os números da sorte. No meio da madrugada, ainda impactada, anotou: 03, 20, 22, 23, 37, 41 e 43. No dia seguinte, foi até a lotérica para registrar sua aposta, mas saiu de lá sem saber que algo essencial tinha dado errado.
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“Não sabia se chorava ou se comemorava”
Na noite do sorteio, Mara estava com a família na casa da mãe. Quando viu os números sendo sorteados, ficou sem reação. Não sabia se chorava ou se comemorava. Era como viver um sonho e, ao mesmo tempo, um pesadelo. Ninguém da casa dormiu naquela noite.
No dia seguinte, 29 de setembro, a realidade caiu como uma pedra. A ficha caiu de vez: o bilhete da Mega-Sena não havia sido registrado. “Eu tive uma frustração que não foi fácil”, disse Mara.
A funcionária da lotérica, segundo Mara, teria se distraído e cometido o erro. Em vez de registrar os números da Mega-Sena, teria passado duas vezes os da Quina e entregue o comprovante errado. Mara só percebeu o problema antes mesmo do sorteio, mas já era tarde demais para corrigir.
Medo, pressão e isolamento
São Bento tem pouco mais de 33 mil habitantes, e a história se espalhou rapidamente. A cidade inteira passou a comentar o caso. Mara se viu em meio a boatos, pressões e medo. “Fiquei apavorada. Parei de sair de casa”, contou. A empresária já havia sido vítima de assaltos, tanto em sua loja quanto em casa, e o medo de se tornar alvo novamente só aumentou com os rumores sobre o suposto prêmio.
O que diz a Justiça
No dia 30 de setembro, Mara acionou o Tribunal de Justiça da Paraíba (TJPB). O pedido era claro: ter acesso às imagens das câmeras da lotérica e aos dados das apostas feitas. A ideia era reunir provas de que ela realmente fez o pedido da Mega-Sena, mas que o bilhete não foi emitido corretamente.
O juiz de 1ª instância aceitou o pedido em fevereiro de 2023. No entanto, antes disso, Mara teve o pedido de gratuidade judicial negado. Ela teve que apresentar uma declaração de pobreza, o que mostra o quanto sua vida financeira está longe daquela que teria se ganhado os R$ 202 milhões.
A lotérica, por sua vez, contesta a versão de Mara. Alega que as imagens das câmeras já não estão mais disponíveis, pois o sistema apaga os registros após seis meses. E questiona ainda os comprovantes apresentados, dizendo que a suposta aposta da Mega-Sena teria sido feita de forma diferente das outras, sugerindo que o bilhete foi modificado posteriormente.
Outro ponto levantado pela defesa da lotérica é o valor da aposta. Segundo eles, para apostar com sete dezenas na Mega-Sena, como foi alegado, o valor seria de R$ 31,50. Mas Mara pagou R$ 11 pelos jogos. A dúvida levantada é: esse valor teria coberto todas as apostas feitas?
O que ela quer da Justiça
Mesmo sem mais acreditar que vai reaver os milhões, Mara ainda luta por justiça. O que ela busca agora é o reconhecimento do que aconteceu. “Hoje eu poderia estar com minha vida totalmente mudada”, lamenta.
O sentimento de injustiça não é só sobre o dinheiro perdido, mas sobre o sonho interrompido. Sobre confiar em um serviço que deveria ter registrado sua aposta corretamente. Sobre ter que enfrentar o julgamento da cidade inteira por algo que não dependeu só dela.
Um prêmio histórico que ninguém levou
Naquele sorteio, o valor acumulado foi um dos maiores da história da Mega-Sena, próximo até mesmo aos prêmios da famosa Mega da Virada. Com ninguém acertando as seis dezenas, o prêmio seguiu acumulado.
Na mesma data, 404 apostas acertaram cinco números e ganharam R$ 43.914,62 cada. Outras 30.194 apostas fizeram a quadra e receberam R$ 839,40.
Uma história que levanta alertas
O caso de Mara Hoffmann vai muito além de uma aposta que não foi registrada. Ele escancara falhas no atendimento das lotéricas, mostra a fragilidade de um sistema que deveria ser à prova de erros e traz à tona o lado humano de quem sonha com uma chance de mudar de vida.
Afinal, quantas outras pessoas já podem ter passado por situações parecidas e não tiveram voz para denunciar? Quantos sonhos já foram desfeitos por um erro que poderia ter sido evitado?
Essa história serve de alerta. Ao apostar, sempre confira cuidadosamente os bilhetes antes de sair da lotérica. Um simples descuido pode custar não só dinheiro, mas a esperança de uma vida melhor.
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