Com a morte do Papa Francisco, o mundo se prepara para uma despedida histórica e marcada por mudanças. Isso porque, ainda em vida, o próprio Pontífice reformou os ritos do funeral papal, tornando-o mais simples, simbólico e próximo da fé cristã, deixando de lado muitos dos elementos pomposos que marcaram a despedida de seus antecessores.
Ao contrário de séculos de tradição, a cerimônia que marcará o fim do pontificado de Francisco segue agora orientações mais enxutas e cheias de significado espiritual, atualizadas entre abril e novembro de 2024. O processo começa oficialmente com a constatação da morte, feita por uma figura chave do Vaticano: o Camerlengo.
Quem é o Camerlengo e qual o seu papel?
O Camerlengo é o responsável por cuidar dos assuntos administrativos da Santa Sé enquanto a cadeira papal está vaga. No caso atual, essa função cabe ao cardeal irlandês Kevin Farrell. Ele verifica a morte do Papa por meio de um ritual simbólico: chama-o três vezes pelo nome de batismo. Sem resposta, a morte é declarada.
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A nova cerimônia: adeus ao luxo, foco na fé
Antes, o corpo do Papa era envolvido por três caixões — de cipreste, chumbo e carvalho. Agora, com a reforma litúrgica feita por Francisco, essa exigência foi descartada. Ele será sepultado em um único caixão, feito de madeira e zinco.
O corpo, em vez de permanecer em seu quarto, foi levado para uma capela privada no Vaticano, onde autoridades e familiares participaram de uma breve cerimônia íntima. Após essa etapa, o Camerlengo redige um documento oficial de falecimento, anexa o laudo médico e sela os aposentos do Papa, protegendo documentos e pertences privados.
Outro detalhe de forte simbolismo: o anel do pescador — usado pelo Papa para autenticar documentos — é destruído com um martelo cerimonial, para evitar fraudes e simbolizar o fim de seu governo espiritual.
Exibição e funeral
A data e o horário da missa exequial serão definidos pela Assembleia de Cardeais. Diferente de cerimônias anteriores, o corpo de Francisco será exposto à visitação pública ainda dentro do caixão, em vez de repousar sobre um pedestal elevado.
Chefes de Estado, representantes religiosos e fiéis do mundo inteiro estarão presentes na Basílica de São Pedro para a missa, que marcará oficialmente o fim do papado. Após a celebração, o corpo será sepultado, mas aqui há mais uma grande novidade: ele não será enterrado na tradicional Basílica de São Pedro.
Francisco escolheu seu local de descanso
O Papa escolheu, por vontade própria, ser enterrado na Basílica de Santa Maria Maggiore, um local de forte valor emocional e espiritual para ele. Durante seu papado, ele visitava frequentemente o santuário para rezar diante do ícone de Nossa Senhora “Salus Populi Romani”. Esse gesto revela o desejo de ser lembrado mais como um discípulo de Cristo do que como uma figura de poder.
Segundo o próprio Francisco, em entrevista dada em 2023, essa decisão reflete sua maior devoção. “É minha maior devoção. O local já está preparado”, afirmou.
O que será enterrado com ele?
Dentro do caixão, junto ao corpo do Papa, estarão:
- Um véu de seda branca cobrindo seu rosto;
- Uma pequena bolsa com moedas cunhadas durante seu pontificado;
- Uma vasilha contendo o chamado “rogito” — um documento breve que descreve os principais feitos de sua vida e papado, lido em voz alta antes de o caixão ser selado.
Nove dias de oração
Após a missa exequial, começa um período de nove dias de luto e oração oficial chamado novendiais. Durante esse tempo, missas diárias são celebradas em sufrágio ao Papa, pedindo por sua alma e agradecendo por seu serviço à Igreja.
Por que essa mudança?
As novas regras foram inspiradas pela necessidade de adaptação. A última vez que a Igreja enfrentou algo semelhante foi em 2022, com a morte do Papa emérito Bento XVI. Na ocasião, foi preciso improvisar o ritual para enterrar um Papa aposentado, algo que não acontecia há seis séculos.
Percebendo essa lacuna, Francisco atualizou o “Ordo Exsequiarum Romani Pontificis”, o manual litúrgico que guia os funerais papais. O novo texto busca deixar mais claro que a cerimônia deve expressar a fé da Igreja na ressurreição e a missão do Papa como pastor, não como uma figura política ou poderosa.
Uma despedida coerente com sua vida
Para muitos fiéis, a nova cerimônia criada por Francisco é coerente com sua trajetória como líder da Igreja: próxima do povo, avessa a ostentações e focada no essencial. Desde o início de seu pontificado, em 2013, Francisco conquistou o respeito de milhões ao propor uma Igreja mais simples, acessível e comprometida com os mais pobres.
Sua despedida, portanto, reflete o mesmo espírito. Ao reformar o funeral papal, ele não apenas mudou uma tradição centenária, como deixou uma mensagem clara: o Papa é, acima de tudo, um servo de Deus e um irmão entre irmãos.
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