As investigações da Polícia Civil do Rio de Janeiro revelam que os Complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte da capital, deixaram de ser apenas redutos tradicionais do tráfico local. Segundo o secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, as duas áreas passaram a funcionar como uma espécie de “quartel-general” nacional do Comando Vermelho, concentrando decisões estratégicas, distribuição de armamentos e treinamento de criminosos que depois são enviados para diversas regiões do país.
De acordo com Curi, a movimentação criminal dentro desses complexos é massiva. Cerca de 10 toneladas de drogas chegam mensalmente ao local, onde são redistribuídas para outras comunidades do Rio. O fluxo de armas também impressiona: a polícia calcula que de 50 a 70 fuzis circulem ali todos os meses antes de serem enviados a outros estados.

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A declaração foi dada após a megaoperação realizada entre segunda e terça-feira (28), que resultou em 121 mortes. A ofensiva mobilizou 2.500 agentes das Polícias Civil e Militar e tinha como principal objetivo desarticular a estrutura nacional do Comando Vermelho, além de cumprir mais de 250 mandados de prisão e de busca e apreensão.
Segundo o secretário, o domínio do grupo criminoso se expandiu de forma acelerada nos últimos 15 anos. Em 2010, durante a implantação da UPP na região, o Comando Vermelho ainda operava com foco apenas no Rio de Janeiro. Hoje, afirma Curi, o cenário é diferente:
“Os complexos da Penha e do Alemão não comandam mais apenas o tráfico local. Agora são o centro de comando nacional da facção. É de lá que partem as ordens, o planejamento e a distribuição para praticamente todos os estados em que o grupo atua”, afirmou.
A investigação aponta que as comunidades funcionam como um centro de formação de criminosos. Traficantes de outros estados chegam ao Rio para receber instrução de tiro, táticas de guerrilha e manuseio de armamentos de alto calibre. Após o treinamento, retornam para suas cidades com a missão de fortalecer a atuação da facção. A expansão é percebida especialmente na Bahia, Amazonas, Pará, Ceará, Mato Grosso e outras regiões onde confrontos ligados ao CV se tornaram frequentes.

Identificação dos mortos
A lista parcial dos mortos durante a Operação Contenção foi divulgada pela Polícia Civil. Dos 117 suspeitos mortos, 109 já haviam sido identificados até a última sexta-feira (31). Destes, 78 tinham antecedentes criminais e 42 tinham mandados de prisão em aberto. Entre os líderes de facções mortos estão:
- DG e FB, apontados como chefes do tráfico na Bahia.
- Mazola, líder em Feira de Santana (BA).
- PP, chefe no Pará.
- Chico Rato e Gringo, ambos ligados ao tráfico em Manaus.
- Russo, liderança em Vitória (ES).
- Fernando Henrique dos Santos, no estado de Goiás.
- Rodinha, de Itaberaí (GO).
Ao todo, 54 mortos eram de outros estados, indicando a presença nacional da facção dentro das comunidades cariocas.
Principal alvo escapou
O principal objetivo da operação, porém, não foi capturado. Edgar Alves de Andrade, conhecido como Doca, conseguiu fugir do cerco policial. Considerado o maior chefe do Comando Vermelho em liberdade, ele teria utilizado comparsas para criar barreiras e garantir uma rota de escape. O Disque Denúncia oferece recompensa de R$ 100 mil por informações que levem à prisão do criminoso.
Com mais de 20 anos de atuação no crime, Doca já foi preso por tráfico e porte ilegal de arma em 2007, mas voltou às ruas e ascendeu dentro da facção. Hoje, está abaixo apenas de Marcinho VP e Fernandinho Beira-Mar na hierarquia da organização.
Um cenário de devastação
Além dos confrontos, o impacto humano da operação impressionou até moradores mais antigos. Relatos descrevem ruas cheias de corpos e um clima de terror dentro das comunidades. Moradores chegaram a levar dezenas de cadáveres para a Praça São Lucas, no Complexo da Penha, na tentativa de agilizar a identificação.
“Essa cena eu nunca imaginei ver. Vivo aqui há quase seis décadas e nunca presenciei algo desse tamanho”, disse uma moradora que preferiu não se identificar. Outro comparou o cenário à destruição provocada por desastres naturais.
Balanço da operação
- 121 mortos (117 suspeitos e 4 policiais)
- 113 presos
- 10 menores apreendidos
- 91 fuzis e 26 pistolas retirados de circulação
- 1 tonelada de drogas apreendida
Apesar da repercussão nacional e das críticas de organizações de direitos humanos, o governo afirma que as ações irão continuar. O governador Cláudio Castro disse nas redes sociais que a meta é garantir o direito de ir e vir da população.
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