Um fio de cabelo ajudou a comprovar que um médico de 90 anos foi envenenado por arsênio. A polícia investiga se uma ex-funcionária da clínica da vítima, em Vitória, e o marido dela envenenaram o homem para encobrir um desvio de cerca de R$ 700 mil entre os anos de 2023 e 2025.
Os suspeitos Bruna Garcia Barbosa Marinho e Alysson Oliveira Marinho foram presos na terça-feira (2). Eles passaram por audiência de custódia, que determinou que a prisão preventiva fosse convertida em temporária.
O advogado Waldyr Loureiro, que representa o médico, contou ao g1 que foi analisada uma mecha de 15 centímetros de comprimento, dividida em três segmentos. Cada uma representava um período de meses que juntas somavam um ano.
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“O cabelo cresce, em média, 1,5 centímetros por mês. Eles coletaram um fio de 15 centímetros e ali foi possível analisar um ano. Os índices iniciais apresentados nos primeiros meses foi altíssimo. O do meio também estava bem alto, e o final, bem baixo”, explicou o advogado.
O exame foi realizado no final de junho pela Polícia Científica do Espírito Santo. Além disso, o advogado acredita que a contaminação era feita a partir de várias águas de coco que eram compradas e servidas por Bruna.
O nome da vítima não foi divulgado a pedido do advogado que representa a família.
O advogado de defesa do casal, James Gouvea Freias, disse que os dois são inocentes, e que com o decorrer do presente inquérito a “verdade vai aparecer”.
Loureiro relatou que o médico estava com inchaços no corpo e vomitava sangue durante o período em que foi intoxicado, e buscou diversos médicos para entender o que poderia causar os sintomas, mas nunca chegou a nenhuma resposta.
Atualmente, o médico sofre com sequelas causadas pelo envenenamento, como agravamento na doença de Parkinson já existente na vítima, dificuldade ao caminhar e problemas cardíacos.
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Tudo isso, segundo o advogado, foi comprovado por exames realizados no Departamento Médico Legal (DML), além de exames particulares complementares que foram entregues.
“Agora, ele está passando por uma desintoxicação. Estão vendo que o inchaço no corpo, por exemplo, desapareceu. Mas ele e toda a família estão extremamente abalados, com medo. Mas acreditam que a justiça vai ser feita”, destacou.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o arsênio é uma das dez substâncias de maior preocupação para a saúde pública.
A exposição a arsênio pode causar intoxicação alimentar e reações similares a alergias, câncer em caso de exposição recorrente, e até morte.
Investigação
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Segundo a colunista de A Gazeta, Vilmara Fernandes, a prisão temporária do casal foi decretada pelo juiz Carlos Henrique Rios do Amaral Filho, titular da 1ª Vara Criminal de Vitória.
Na decisão, o juiz destacou que há indícios suficientes de autoria do crime, e que a prisão é “imprescindível para que a autoridade policial possa concluir as investigações, inclusive para preservar futura coleta de outras provas”.
O advogado apontou ainda que a vítima não tinha desconfiança nenhuma de que o dinheiro da própria clínica era desviado.
“A mãe da Bruna já trabalhou na casa do casal por muito tempo como faxineira. Então, ela (Bruna) foi indicada, já havia uma pré-confiança. Mas um dia, quando ele foi tentar pagar uma conta para a esposa e não conseguiu, porque deu cheque sem fundo, ele foi ver o que tinha acontecido com o banco. E aí ele viu rombo em duas contas. A partir disso, então, foi contratada uma perícia para investigar de onde saia o dinheiro e foi detectado que a Bruna e o marido eram beneficiários”, comentou.
A investigação apontou que o dinheiro desviado ia para uma conta pessoal da Bruna.
Em março, a vítima e a esposa desconfiaram de que a funcionária estava desviando recursos da clínica e que o dinheiro caía direto na conta pessoal de Bruna.
O médico informou que, após ser confrontada com as informações, a mulher se demitiu. Já em abril, a esposa do médico descobriu cheques em nome do marido e frascos de arsênio e laxante na unidade médica em um local que era utilizado por Bruna.
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