A história de Roceirinho, líder da facção criminosa Katiara, é um retrato claro de como o tráfico de drogas pode gerar fortunas ilegais — e também devastar territórios inteiros. Em 2013, quando já estava preso no Complexo Penitenciário da Mata Escura, em Salvador, Roceirinho viu seu império ruir após uma operação da Polícia Civil que resultou no bloqueio e sequestro de bens avaliados em R$ 2,5 milhões.
As autoridades identificaram que o chefe da Katiara havia construído uma rede de bens de alto valor — incluindo uma casa em Jacuípe, imóveis em Lauro de Freitas e Aracaju, além de uma fazenda no interior da Bahia e uma frota de veículos — tudo em nome de terceiros, os chamados “laranjas”. Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), os bens eram fruto direto do lucro do tráfico e da lavagem de dinheiro.
Além do enriquecimento ilícito, Roceirinho é apontado como o mandante de crimes bárbaros. Em 2010, ele ordenou uma chacina que tirou a vida de cinco membros da mesma família na Barra do Gil, em Itaparica. Também foi responsabilizado pela execução de Edson Conceição, um ex-parceiro de facção que lhe devia R$ 30 mil.
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Mesmo atrás das grades, Roceirinho manteve, até pelo menos 2018, forte controle sobre o Recôncavo Baiano — uma região estratégica formada por cerca de 20 municípios. A base de operações era em Nazaré, cidade natal da Katiara, mas a influência do grupo se estendia a municípios como Santo Antônio de Jesus, Maragogipe, Salinas da Margarida, Vera Cruz e Santo Amaro da Purificação.
Essa hegemonia, no entanto, começou a ruir com a chegada de facções mais armadas e violentas. O BDM (Bonde do Maluco), fortalecido com apoio do PCC (Primeiro Comando da Capital), passou a disputar território com a Katiara, utilizando armamento de guerra e táticas militares para expandir seu domínio pelo interior da Bahia.
A situação se agravou com a entrada do Comando Vermelho (CV) na Bahia, em 2020. Inicialmente em Salvador, a facção rapidamente avançou pela Região Metropolitana e alcançou o Recôncavo. Pouco depois, outro grupo carioca, o Terceiro Comando Puro (TCP), aliado do BDM, também entrou em cena. O resultado foi um cenário ainda mais fragmentado e violento.
Hoje, Nazaré continua sendo o último bastião da Katiara, mas outras cidades do Recôncavo já estão sob controle parcial ou total de facções rivais, como o CV e o BDM/TCP. Em localidades como Santo Amaro da Purificação, o domínio é compartilhado, e a população vive sob constante tensão. A disputa por território tem provocado episódios de extrema brutalidade: entre os dias 14 e 18 de junho deste ano, foram registrados três casos de esquartejamento na região.
Na capital, a presença da Katiara também é limitada. A facção atua em bairros como Valéria, Águas Claras e partes de Cajazeiras, mas sem a força de outrora.
A história de Roceirinho não é apenas sobre um criminoso que se enriqueceu com o tráfico. É também sobre o impacto social de facções que dominam territórios, impõem medo e transformam comunidades inteiras em zonas de conflito. E reforça a urgência de ações integradas entre segurança pública, políticas sociais e investimentos em inteligência para desarticular essas redes violentas que ameaçam a estabilidade de cidades inteiras.
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