O Ministério Público da Bahia aponta que a ex-diretora do Conjunto Penal de Eunápolis, Joneuma Silva Neres, o ex-coordenador de segurança Wellington Oliveira Sousa e o suposto líder de facção Ednaldo Pereira de Souza, conhecido como Dadá, atuaram juntos para viabilizar a fuga de 16 detentos no presídio, em dezembro do ano passado.
Segundo as investigações, o plano tinha como objetivo retirar Dadá e outros comparsas do sistema prisional. Um dos fugitivos acabou morto em confronto com a Polícia Civil em janeiro, mas os demais seguem foragidos.
De acordo com o MP-BA, Joneuma e Wellington colaboraram diretamente para facilitar a fuga. Além de reunir integrantes da facção em uma mesma cela, a dupla teria elevado o status de mais de 12 presos, transformando-os em “correrias” — expressão do sistema penitenciário que designa internos com livre circulação e funções de intermediadores. Esses detentos chegavam a portar chaves de celas e alas do presídio, conforme depoimentos colhidos pela Promotoria.
Participe do nosso grupo de notícias no WhatsApp: 👉 Quero Participar 🔔
Outro ponto levantado pela denúncia foi a entrada de objetos ilícitos, como celulares, facas e até uma furadeira elétrica. A ferramenta, segundo a investigação, foi usada para abrir um buraco no teto por onde os presos escaparam.
O MP detalha ainda que parte desses itens foi introduzida com o apoio de pessoas de fora do presídio, que se apresentavam como visitantes. Durante reformas no presídio, presos chegaram a transportar os objetos dentro de baldes, sob o olhar permissivo de Joneuma e Wellington.
Câmeras de segurança registraram a movimentação suspeita, mas a reação da direção do presídio foi tardia. O supervisor responsável pelas rondas chegou a alertar Wellington sobre risco iminente de fuga, mas, de acordo com o processo, ele demorou a agir e chegou a atribuir a responsabilidade à ex-diretora.
A investigação revela ainda que Joneuma só pediu a devolução da furadeira dois dias após a fuga, mesmo tendo conhecimento de que o equipamento havia sido utilizado para perfurar o teto da cela. O objeto, segundo o MP, ficou guardado na sala da ex-diretora e, posteriormente, teria sido recolhido por Wellington para entrega direta a ela.
O esquema de fuga envolveu ainda quatro veículos SUVs e homens fortemente armados, que deram apoio externo à evasão dos detentos.
Denúncia e defesa
Joneuma, que assumiu a direção do presídio em março de 2024 e foi a primeira mulher a ocupar o cargo na unidade, está presa no Conjunto Penal de Itabuna, onde inclusive deu à luz recentemente. A família dela denuncia falta de condições para manter o bebê dentro do presídio.
Em sua defesa, Joneuma nega qualquer envolvimento com Dadá ou participação no esquema. Sua advogada sustenta que a ex-diretora não recebeu valores para facilitar a fuga e que o sigilo bancário já foi colocado à disposição da Polícia Civil.
Já Wellington, hoje preso no Conjunto Penal de Teixeira de Freitas, preferiu não se manifestar por meio de seus advogados.
Dadá continua foragido e, segundo a investigação, teria fugido para o Rio de Janeiro. Testemunhas relataram que, após a fuga, ele se abrigou na favela da Rocinha, ao lado de outros cinco fugitivos.
Além de Joneuma, Wellington e Dadá, outros 15 detentos também foram denunciados pelo MP-BA. Um deles, Vagno Oliveira Batista, apontado como responsável pelo armamento da quadrilha, foi preso em fevereiro, portando uma pistola.
Regalias, encontros sigilosos e valores suspeitos
A apuração do Ministério Público indica que, ao longo de sua gestão, Joneuma concedeu regalias a integrantes da facção, como a entrada de ventiladores, sanduicheiras, freezers e até a liberação de visitas sem revista.
Depoimentos apontam que Joneuma e Dadá teriam encontros sigilosos na sala de videoconferências do presídio, sempre sem vigilância, com a janela coberta para evitar testemunhas. Funcionários relataram estranheza pela frequência e longa duração dessas reuniões.
Há ainda relatos de que a ex-diretora teria recebido cerca de R$ 1,5 milhão para facilitar a fuga dos presos, embora ela negue veementemente qualquer pagamento.
Posicionamento oficial
Em nota, a Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização (Seap) negou que o ex-deputado Uldurico Júnior tenha qualquer influência política no órgão para encobrir supostas ações criminosas no presídio de Eunápolis.
A Seap também afirmou desconhecer qualquer envolvimento de Joneuma com detentos e disse que todas as inspeções realizadas na gestão dela foram previamente organizadas para aparentar normalidade, sem que fossem percebidas as irregularidades.
Próximos passos
O Tribunal de Justiça da Bahia ainda não informou se já aceitou a denúncia oferecida pelo Ministério Público. O caso corre em segredo de Justiça.
Compartilhe